Conforme prometido, vem desta forma a Gazeta de Miraflores prestar uma justa homenagem ao Sr Embaixador João de Sá Coutinho, Conde d’ Aurora, que residiu durante vários anos na nossa querida Freguesia de Algés, mais propriamente em Miraflores, pessoa carismática que muitas saudades deixou por cá, passo a transcrever um excelente artigo publicado no sitio "Novo Panorama" (http://novopanorama.pontedelima.com/) que tudo (ou quase) diz sobre o Sr Embaixador.
Quero aproveitar este artigo para desejar as mais sentidas condolências à família, com a sua morte Portugal ficou muito mais pobre. Quero também deixar aqui um um forte abraço e apresentar as minhas desculpas à minha querida amiga Rosário de Sá Coutinho, por, este artigo não ter vindo mais cedo, como se exigia ... para ti um abraço muito especial de todos os Miraflorenses.
"Faleceu no passado mês de Maio no Hospital Particular de Viana do Castelo, João de Sá Coutinho, Conde d’ Aurora, faleceu aos 82 anos. Filho do Conde d’ Aurora, que se distinguiu como escritor e divulgador da história limiana, João Coutinho era o 4º na hierarquia aristocrática, distinguindo-se como diplomata. O Novo Panorama presta o seu tributo a uma figura proeminente da vida limiana, de uma família incontornável no percurso do Vale do Lima, recordando a última entrevista (publicada a 8 de Março deste ano) dada pelo Conde d’ Aurora (na sua casa do Arrabalde) a um meio de comunicação social:
É filho do carismático Conde de Aurora, por isso ele próprio é o 4º Conde de Aurora da linhagem. Não se dedicou tanto às artes e letras mas também levou o nome de Ponte de Lima longe. Bem longe. João de Sá Coutinho foi embaixador de Portugal em alguns países e conselheiro. Fala da sua terra mas é um homem do mundo. Esteve em países como Canadá ou Brasil e conta um episódio mediático quando coordenou uma operação para desmobilizar um pequeno “pirata do ar”. Tem mais de 30 condecorações, incluindo a maior, Ordem de Cristo, mas em Ponte de Lima ainda não. João Sá Coutinho já esteve com as mais altas figuras estatais mas preserva uma simplicidade natural. É uma pessoa formalmente informal…
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João de Sá Coutinho Rebello Sotto Mayor pertence a uma das famílias mais conceituadas e nobres de Ponte de Lima. Talvez assim muita gente não associe à aristocracia, mas estamos a falar do 4º Conde de Aurora. Filho de José António Francisco Maria Xavier de Sá Pereira Coutinho, o letrado Conde de Aurora que guarda diversas memórias limianas em vária documentação, e um dos percussores, dinamizadores e divulgadores de alguns aspectos culturais pontelimenses. João tem agora a responsabilidade desse legado, transmitido aos seus três filhos (dois filhos e uma filha). João nasceu a 8 de Outubro de 1929. É de certa forma também um divulgador das raízes limianas através da sua vida como diplomata, foi conselheiro e embaixador em várias zonas do planeta. Estudou no Porto, onde conheceu a esposa (filha de um professor da Universidade), e licenciou-se em advocacia. Mas não chegou a ser advogado, cedo começou na vida diplomática. “Surgiu e acho que tinha a ver comigo, apreendi logo essa forma de viver e estar na vida”, conta. Da vida em Ponte de Lima, após os estudos pouco esteve em terras limianas.
“Quando estava fora e vinha cá era uma espécie de rejuvenescimento”, recorda. As melhores recordações são da adolescência. “Tive uma infância e adolescência feliz, o meu pai tinha uma forma de educar tal como na altura, mas fiquei muito ligado às minhas irmãs com quem cresci”, explica o Conde de Aurora. “Éramos 9 irmãos, fui educado pelas irmãs mais velhas, o meu pai ia para o escritório, era normal nas familias o pai tinha as suas coisas, isolava-se mas também íamos passear juntos, ainda hoje tenho comportamentos dessa aprendizagem com o meu pai”, refere. O seu pai escreveu em 1929 o Roteiro da Ribeira Lima. Explica que o pai foi educado com o Conde de Bertiandos, o avô de João morreu cedo. “A caracteristica mais vincada que guardei dele é a disciplina”, diz do pai. “Educou-nos de forma equilibrada, estudei no Porto no Liceu, foram os melhores anos da minha vida”, sublinha a sorrir. Em Coimbra estudou Direito e por lá casou, com a filha de um professor. Depois candidatou-se à carreira diplomática: “achei que era uma profissão cativante e uma boa maneira de viver a vida e conhecer pessoas”, diz. Esteve quatro anos numa missão como correio diplomático. De 1960 a 1964 esteve no Brasil, foi nomeado par Minas Gerais. “Era uma maravilha, lá havia limianos, o presidente da Associação de Portugueses era limiano”, recorda. No Brasil nasceu um filho.
Acha que Ponte de Lima tem ganho qualidade e já tem projecção nacional. Por isso lembra que no seu périplo pelo mundo viu muitos limianos. E além disso ou por isso: “lá fora conhecem Ponte de Lima”. E no Brasil conheceu muitos, “é normal”. Do Brasil tem boas recordações mas também esteve por exemplo no Canadá. E até lá há vestígios altominhotos. “Um dia o meu pai quis ir ao Ártico, fomos a uma cidadezinha”, conta. A visita teve como anfitrião o padre Adams, que lhes apresentou a secretária que se cahamava Mahona da Silva. E obviamente Silva não engana. Mas um Silva no Ártico é das coisas mais incomuns para se encontrar. Ou não. “contou que o nome vinha de um tripulante de uma traineira que se afundou num iceberg, morreram todos menos esse Silva”. Ora o Silva foi recolhido pelos esquimós com quem conviveu por mais de uma ano, adaptando-se bem. “Ao fim de algum tempo já falava, depois de um ano falava a língua, e disseram-lhe que estava na altura de casar”, prossegue. Mas arranjaram ao português “uma matracona, gorda” e ele aflito safou-se o melhor que pôde. “Depois conseguiu casar com outra, melhorzinha, esse Silva era daqui, da zona de Viana, de onde saiam também os pescadores das grandes embarcações de pesca do bacalhau”. De alguns episódios, João Sá Coutinho lembra-se de quando De Gaulle foi recebido no Québec (região sob domínio francês no Canadá) disse no discurso “Viva o Québec livre!”. Isso causou muita polémica.
Após o 25 de Abril, Mário Soares enviou João Rebello Sotto Mayor para Bissau, Guiné. “No pós-independência foi complicado, havia várias noites de tiroteio”, conta. Chegou também a estar no Senegal e na Mauritânia. E foi no Senegal que conheceu Leópold Senghor, que considera uma das personalidades mais interessantes com quem privou: “foi uma grande personalidade, não achava a independência das colónias uma grande coisa, tinha uma visão actual e esclarecida das coisas”. Na Mauritânia o conde estava no gabinete de apoio à frota pesqueira portuguesa. Sobre a opinião dos portugueses em ex-colónias, explica que é um “fenómeno curioso” nas antigas colónias que as pessoas que tenham estado em Portugal, como Agostinho Neto, e aqueles que tinham combatido na guerrilha, não tinham uma visão negativa dos portugueses, mas “os que apareceram só na altura da independência só criaram problemas”. Agostinho Neto viria a morrer em Moscovo: “foi uma perda grande para Angola, perdeu-se possibilidade de progresso e equilíbrio entre as forças”, diz. Conta que também nessa altura não teve vida fácil: “depois da morte dele apanhei períodos muito conturbados, nas embaixadas não havia segurança mas normalmente não havia riscos”. Conheceu também Nino Vieira, e quando se juntavam várias patentes desses períodos conturbados “só falavam de guerra, como quem fala de outra coisa, era o quotidiano, era normal”.
Sobre a transição das ex-colónias para a independência João de Sá Coutinho não adianta muito. Só acha que poderia ser melhor preparado porque foi num curto espaço de tempo. “Angola tinha figuras que eram amigas mas outras não”. Em relação a transformações a democracia também não trouxe mudanças na vida profissional do conde: “os diplomatas não são representantes do regime ou do governo, são representantes do país e do povo”. De todos os países onde esteve há um especial: “O Brasil está à parte, fui apoiado pelos limianos que também que lá estavam, está-me mais no coração evidentemente “. Mas o local mais “privilegiado” foi sem dúvida em Roma, ou melhor, Vaticano, onde foi embaixador: “A embaixada é um palácio fabuloso, é no meio de um grande jardim com dois hectares, fica no centro de Roma e está decorada com uma colecção de mármores impressionante”. Conheceu João Paulo II mas os embaixadores não eram presença constante com o papa. No entanto chegou a confidenciar-lhe: “a grande preocupação de João Paulo II era África”. O Conde de Aurora é uma pessoa de fé, diz que a mantém.
Com uma vida social muito intensa João não tinha tempo para muitos hobbies. Por isso hoje tem algum tempo para escrever. “Herdei um pouco da escrita do meu pai mas não sou escritor, podia ter feito as memórias mas nunca guardei as notas”. Escreveu só um livro no âmbito das suas responsabilidades de conselheiro no Canadá – “Canadá em Crise”. Mas garante que está a pensar escrever. E poderá ser em breve. Como presidente das ordens honorificas portuguesas, teve a gerência de conceder diversas condecorações: “tudo o que era chefe de estado era condecorado”. Também ele tem mais de 30 condecorações, entre elas a maior, a Grã Cruz da Ordem de Cristo. Curiosamente em Ponte de Lima nunca foi agraciado. Com os ex-presidentes dá-se bem, incluindo o amigo Mário Soares e Cavaco Silva, que nas Feiras Novas de 2010 esteve na sua casa do Arrabalde. Casa que é tradicionalmente o ponto de partida de uma das grandes tradições da vila, a Vaca das Cordas. O conde gosta de ser anfitrião desta tradição popular mas nota que por vezes “é um bocadinho incómoda”. Mas gosta da festa. Diz que depois do pai é difícil escolher uma figura limiana de destaque, recorda os ex-presidentes de câmara, “gente de nível e qualidade”, e de grandes figuras, como Lima Bezerra e Cardeal Saraiva, para citar alguns.
O Dia em que o Embaixador confrontou um pequeno “piarata do ar”
Um dos episódios mais marcantes na carreira de diplomata de João Sotto Mayor teve a ver com a tentativa de desvio de um avião da TAP. “Um pirata do ar desviou um avião que teve de aterrar de emergência em Madrid. Chamaram-me e eu fui. Ele estava barricado e armado, disseram que seria algarvio. “Falei pela rádio com ele até de manhã, ele deveria ter 17 ou 18 anos, e mais tarde acabou por sair. Depois vim encontrá-lo num posto na televisão…”. Segundo o relato de um do co-piloto, José Correia Guedes, a condução do processo pelo embaixador português foi crucial para evitar danos maiores. “Alertadas as autoridades portuguesas e espanholas, lá nos dirigimos para Madrid, onde aterrámos menos de uma hora depois do início do sequestro. Só então o Rui, esse era o seu nome, achou por bem pegar no microfone e informar os passageiros sobre o que estava a acontecer. Fê-lo tão bem e tão serenamente que não se vislumbrou qualquer manifestação de pânico.
Lá fora as coisas eram levadas mais a sério. O avião estava cercado pela brigada antiterrorista e o embaixador de Portugal em Espanha, João Sá Coutinho, dirigiu-se à torre de controlo do aeroporto de Barajas para negociar, via rádio, uma solução para esta crise. Repetimos, vezes sem conta, que o jovem acabaria por ceder, por fadiga ou persuasão. Era vital impedir que os militares espanhóis transformassem uma aventura inconsequente num banho de sangue. Felizmente, o talento e o «charme» do nosso embaixador bastaram para acalmar as autoridades de Madrid. Só não bastaram para convencer Sá Carneiro a abrir os cofres e assim foi necessário ir reforçando a nossa recém-criada intimidade com o Rui. Sempre acreditei que com honestidade, ternura (tratava-se de uma criança…) e bom senso o problema acabaria por resolver-se, como aconteceu”.
Perfil
João de Sá Coutinho Rebello Sotto Mayor, nasceu a 8 de Outubro de 1929 e era o 4º Conde de Aurora. Filho de José António Francisco Maria Xavier de Sá Pereira Coutinho e de Maria da Graça de Abreu Castelo-Branco.
UM GRANDE HOMEM, UM GRANDE FIDALGO, UM GRANDE REPRESENTANTE DE PORTUGAL.
ResponderEliminarMEUS RESPEITOS À FAMÍLIA