sábado, 27 de outubro de 2012

A Ponte Velha de Algés


"E eis-nos chegados à ponte que a Câmara de Lisboa fez construir em 1608 por conta do Real do Povo, mercê dos esforços e da tenacidade de um arrábico, que levou muitos anos de vida exemplar no convento de São José de Ribamar, chamado, em religião, frei Rodrigo de Deus."
Mário de Sampayo Ribeiro
"Da Velha Algés"

Separata do Boletim Cultural e Estatísco da Câmara Municipal de Lisboa 

Volume 1 - nº 3, 1938



Mário de Sampayo Ribeiro (cuja obra acima referida admiro particularmente) menciona em 
"Da Velha Algés"
 o detalhado relato sobre a construção da Ponte Velha de frei António da Piedade sobre a Ponte Velha de Algés, o qual passo a publicar abaixo :






Lapides da ponte velha de Algés (que presumo estejam na posse da C.M.Oeiras) já sem as referidas cruzes que as encimavam, das quais ainda se notam as bases.


Positivo e negativo da lage virada a Norte com o escudo da Cidade de Lisboa

Positivo e negativo da lage virada a Sul com a inscrição "A CIDADE MANDOU FAZER ESTA PONTE NO ANO DE 1608"




No início do ano de 1848, numa publicação periódica lisboeta, a «Revista
Popular», semanário de «Literatura e Indústria» que se fazia acompanhar
de «gravuras originaes em madeira executadas por artistas nacionais», foi
impressa a que reputamos ser a mais antiga representação da desaparecida
Ponte de Algés, construída em 1608.
A gravura, de um artista não identificado, possui indiscutível valor iconográfico
e documental. Com um traço vigoroso e razoável rigor representativo,
revelam-se as características construtivas da velha ponte, que possuía um
só arco, de volta perfeita, com o tabuleiro de circulação a acompanhar a sua
modelação e alçado marcado por pilaretes e pináculos, solução que emprestava
uma maior elegância formal ao conjunto. O enquadramento paisagístico,
próximo e longínquo, revela a vegetação que brotava junto à ribeira, o
muro delimitador e um renque de árvores da quinta dos duques de Cadaval,
na margem esquerda, e uma casa, em posição travessa, na margem direita,
e, servindo de ponto de fuga de toda a composição, dois moinhos nos cabeços
de Linda-a-Velha.
Para lá da realidade representada, de meados do século XIX, que não diferiria
muito da do tempo da fundação da ponte, a gravura encerra outras
dimensões. Evoca a memória histórica de uma época em que as ribeiras,
mais ou menos caudalosas, que rasgavam o território oeirense e juntavam
as suas águas às do Tejo começaram a deixar de ser obstáculos à circulação
de gentes e de mercadorias que «das partes de Cascais, Oeiras e outros lugares
» pretendiam ir à capital (Frei António da Piedade, Crónica da Província
de Santa Maria da Arrábida…, 1737) e evoca a acção determinante de um
frade de Santa Catarina de Ribamar, Frei Rodrigo de Deus, que obteve junto
da Câmara de Lisboa a autorização e os meios indispensáveis à construção
das três pontes que passaram a servir o então Reguengo de Algés (sobre as
ribeiras de Algés, Linda-a-Pastora e Laveiras). Evoca, por outro lado, uma
paisagem natural e construída há muito desaparecida, seja a que a gravura
reproduz, numa atmosfera vincadamente bucólica e pitoresca que sensibilizou
outros artistas, como o rei D. Carlos (desenho a carvão, de 1886, muito
pouco conhecido, da «Ponte de Algés»), seja a que, num registo histórico
evolutivo, emerge em inícios do século XX, em que junto à ponte, qual fronteira,
surgem as chamadas «Portas de Algés», de controlo alfandegário e
policial, um moinho «americano», outras duas pontes e construções urbanas
que o tempo também acabaria por consumir. Evoca, ainda, mil e uma estórias
e vivências, que aqui, necessariamente, ficam por contar.
Texto acima da autoria de Joaquim Boiça











4 comentários:

  1. Meus parabéns pelo excelente trabalho !! Onde será possível encontrar referências à Vila Matias, que se situava nestes terrenos nos inícios de sec.XX ?

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  2. também gostava muito de saber... a minha avó morou lá e a minha mãe aí nasceu. Fartei-me de brincar. Gostava de ver fotos se alguém tiver. Saudades...

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    1. não vejo aqui o meu comentário mas... os meus avós moravam na vila matias, a minha mãe nasceu lá e também me fartei de brincar muito antes do Pingo Doce...
      Isabel Carvalho

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  3. tenho tantas saudades também , a minha avó morava lá

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