sexta-feira, 19 de junho de 2015

O farol da Mama de Carnaxide, marca da Mama ou Mama Sul.



O farol da Mama , marca da Mama ou Mama Sul é um farol português (que é também marco geodésico), que se encontra edificado numa elevação de 145 metros de altitude na Serra de Carnaxide, concelho de Oeiras, distrito de Lisboa, a cerca de 4 km a NE (nordeste) do Farol do Esteiro.

O farol  o marco


O farol consiste num monumento branco com três pés, estando a lanterna instalada numa plataforma a 10 metros de altura.



As condições de navegabilidade e segurança oferecidas pelo estuário do Tejo favorecem, desde sempre, a presença humana na área. Os vestígios mais antigos dessa presença datam da pré-historia.
Os historiadores acreditam que os Fenícios, no séc. XII a.C., reconheceram os méritos da localização de Lisboa e estabeleceram um porto comercial na Margem Norte do rio Tejo.
A importância estratégica de Lisboa não escapou ao conhecimento de outras nações de marinheiros e exploradores, o que em 205 a.C., terá motivado a conquista da cidade pelos Romanos e seu baptismo como Olissipo que recebeu o epíteto de “Felicitas Lulia”. Com a queda do Império Romano, seguiram-se os Suevos e os Visigodos que controlaram a cidade desde 472 d.C. Os Mouros tomaram Lisboa – Asch-Bonnah – em 714 d.C. e desenvolveram o porto através das suas actividades comerciais mediterrânicas e atlânticas.
No séc. XI o processo de reorganização interna da Europa conhece novo rumo e, com o desenvolvimento das cruzadas, o tráfego e o comércio marítimo sofreram consideráveis acréscimos. D. Afonso Henriques, apercebendo-se da importância estratégica da cidade de Lisboa no contexto internacional, dirigiu os seus movimentos de expansão para sul, com vista a estabelecer uma zona de influência portuguesa ao longo da costa conseguindo garantir o apoio das cruzadas para a conquista da cidade de Lisboa, fundamental para o domínio do estuário do Tejo, porto natural de grandes dimensões que melhoraria em muito a importância do território neste contexto europeu. Assim, a 28 de Junho de 1147 entra no Tejo uma frota com 164 navios transportando um exército de 13.000 cruzados.
Tendo desempenhado um papel fundamental na conquista da cidade de Lisboa aos mouros e, posteriormente, na defesa da nacionalidade, o porto está estreitamente ligado à cidade que com ele nasceu e prosperou.
No início do séc. XIII os métodos de navegação evoluem bastante, com a utilização da bússola como auxiliar da navegação e a introdução do leme de cadaste, trazendo mais estabilidade e maneabilidade às embarcações. Controem-se navios de maior dimensão e maior capacidade de carga.
Quando surgem, no primeiro quartel do séc. XIII, as primeiras linhas regulares do Mediterrâneo para Inglaterra e Norte da Europa, pelo Estreito de Gibraltar, Lisboa é escala obrigatória para todos os navios em trânsito pela costa portuguesa.
Usufruindo de uma situação geográfica invejável, o porto de Lisboa vai facilmente inserir-se nas rotas marítimas internacionais.

 Os mareantes e pescadores de Lisboa a Cascais familiarizaram-se desde muito cedo, com o Tejo e a sua barra. Os mais sábios e experientes de entre eles, os chamados "práticos do rio", aprenderam, na sua faina diária, pela observação continuada as leis naturais que regiam o ciclo das marés, o sentido das correntes, o regime dos ventos, o movimento das areias, a natureza dos fundos como conduzir as suas embarcações pelos canais de navegação.
 O reconhecimento da importância que tinham enquanto grupo social e de valor de informação prática que possuíam ficou registado na Carta de Privilégios do Pilotos da Barra de Lisboa", atribuída por El Rei Dom Manuel, em 1515, documento que lhes concedeu diversas benesses como a isenção de taxas e servidões, deste modo o Rei procurou garantir o serviço de pilotagem aos navios marcantes que entravam na barra, cujos porões carregados de especiarias e mercadorias de múltiplas paragens sustentavam a prosperidade do reino.
 Até meados do século XIX, continuou a recorrer-se ao serviço de pescadores e mareantes com matricula de pilotos, Só a partir de então a pilotagem cederia progressivamente o seu lugar à pilotagem cientifica.
 Até tempos recentes, apesar dos avanços científicos que a arte de navegar registou, mantiveram actualidade as palavras escritas pelo cosmógrafo Manoel Pimentel, que, em 1712, advertiu que as balizas terrestres que referenciavam os enfiamentos dos canais da barra do Tejo (entre eles a elevação onde se encontra hoje o farol da "Mama" de Carnaxide), serviam "somente para quem tiver muito conhecimento dos sítios, os quaes não se podem declarar por escrito"
 Cartografar a Barra do Tejo terá sido assim uma necessidade urgente e vital. O grande aumento do tráfego mercantil da cidade de Lisboa, na época quinhentista, por um lado e o aumento do calado dos navios por outro, assim o obrigou. Registar a topografia do porto, as sondas dos fundos, os escolhos e formações arenosas, os canais de navegação e os enfiamentos foi decerto uma preocupação que passou a ser partilhada pela coroa, os cosmógrafos ao seu serviço e também os das nações marítimas estrangeiras.

1583  Carta da Barra do Tejo, Lucas Waghenaer (1533-34- 1606)  Spieghel der zeevaerdt

 As mais antigas representações da Barra do Tejo são de origem estrangeira e pertencem a atlas holandeses, datam de 1572/80 e de 1583(1), é correcto pensar que estes registos se terão baseado em trabalhos anteriores de navegadores portugueses ou de estrangeiros ao serviço da coroa. Muito pouco separam os registos quinhentistas e seiscentistas dos de finais de setecentos, ainda que a configuração da linha de costa tenha progressivamente adquirido contornos mais claros e aproximados e mais informação de natureza náutica (maior nº de sondas e sinalização dos canais de navegação), é np século XVIII (1607) que nos aparece o primeiro registo do ponto de referência hoje conhecido por monte da "Mama" de Carnaxide, na "Planta de la Barra de Lisboa", de Leonardo Turriano, escala 100 braças. In "Discurso de Leonardo Turriano sobre limpiar la Barra del Texo y otras barras de otros rios", por essa altura teria já deixado de ser apenas um elevação de referência e teria já sido construído um edifício em forma de seio (que penso ter sido a origem da nomenclatura hoje atribuída ao local), de modo a que fosse melhor visualizada da entrada da barra. Apesar da marcação do ponto de referência do Farol da Mama aparecer registado em 1607 já com uma edificação construída, terá evidentemente sido utilizado como marco de navegação em épocas muito anteriores, provavelmente desde o tempo da ocupação romana.


1607 Planta de la Barra de Lisboa, de Leonardo Turriano


Legenda 1 - Edifício construído provavelmente em finais do século XVI inicio do século XVII para assinalar a elevação que desde tempos muito antigos marcava a rota de entrada no Tejo o  o Canal da Barra Sul
2 - Rota do canal da Barra Sul, devidamente assinalada e enquadrada com o farol da Mama de Carnaxide

 Após a constatação de que teria existido um edifício anterior ao farol actualmente existente na elevação, deslocamos-nos ao local e conseguimos identificar, perto da actual estrutura os vestígios da marca original como mostramos nas fotografias abaixo.







O farol de Carnaxide faz portanto parte do sistema de balizagem de um dos principais canais de navegação do Estuário do Tejo, o Canal da Barra Sul. Conforme se pode ler no Regulamento da Autoridade Portuária de Lisboa, na página 65 da versão de 2008:
"o eixo deste canal é definido pelo enfiamento dos faróis da Gibalta e Esteiro com a marca da Mama Sul"

É comum a oscilação entre as designações de marco (ou vértice) geodésico e de farol. Estranho é que as entidades competentes sejam omissas quanto à sua referênciação. A Direcção de Faróis não o lista como tal (talvez porque, oficialmente, é apenas uma marca de balizagem, como refere o Regulamento da APL), ao contrário da Revista da Armada, que o refere a páginas 145 da sua compilação de revistas do ano de 2006 como Farol da Mama (mas também como Marca da Mama). O Instituto Geográfico do Exército refere-o como vértice geodésico de 2.ª ou 3.ª ordem, mas o Instituto Geográfico Português omite-o dos resultados da busca na Rede Geodésica Nacional (surge, porém, na listagem do sistema ETRS89).

Na página da Junta de Freguesia de Carnaxide menciona-se que "o chamado «Foguetão de Carnaxide» [é] uma construção erigida na elevação de 145 metros de altitude junto a um marco geodésico existente na localidade". Assim sendo, não será um vértice com a função de farol, mas sim um vértice e um farol muito próximos.

 As obras recentes tiveram, sobretudo, a função de elevar o farol, cuja visibilidade viria a ser comprometida pela construção de edifícios altos nas redondezas. Na verdade, a elevação e a nova pintura dão-lhe um aspecto mais consentâneo com um farol, mas as obras circundantes estão, aparentemente, paradas: depois de terraplanagem e construção de algumas infra-estruturas (arruamentos, iluminação pública e lugares de estacionamento), o local foi deixado abandonado

Foi iluminado em 1995 com uma lanterna direccional “Tideland” RL-355. Possui uma altura de 15 metros a uma altitude de 82 metros, para atingir o alcance luminoso de 21 milhas náuticas.

Foi remodelado em 2013(2)pela firma Lindley sob supervisão da Direcção Geral de Faróis, aumentando a sua intensidade lumínica para 400.000 candelas por unidade, permitindo alcances superiores a 10 MN de Dia e 24MN de noite, esta instalação permite a sincronização por GPS dos faróis da Gibalta, do Esteiro e da Mama e monitorização via web do estado de funcionamento do farol.

(1) o Spieghel der Zeevaerdt (1584-85) e o Thresoor der
Zeevaert (1592) de  Lucas Jansz Waghenaer

(2) remodelação 2013 - http://www.revistademarinha.com/index.php?option=com_content&view=article&id=2795:grupo-lindley-renova-o-farol-da-mama-&catid=101:actualidade-nacional&Itemid=290









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