"E eis-nos chegados à ponte que a Câmara de Lisboa fez construir em 1608 por conta do Real do Povo, mercê dos esforços e da tenacidade de um arrábico, que levou muitos anos de vida exemplar no convento de São José de Ribamar, chamado, em religião, frei Rodrigo de Deus."
Mário de Sampayo Ribeiro
"Da Velha Algés"
Separata do Boletim Cultural e Estatísco da Câmara Municipal de Lisboa
Volume 1 - nº 3, 1938
De facto este mundo tem coisas do "arco da velha"...
Andava há anos em busca das lápides da antiga ponte velha de Algés e depois de muito procurar, pesquisar em arquivos e após diversos contactos para a CMO, cheguei à triste conclusão de que teriam eventualmente desaparecido para sempre perdidas algures num meandro camarário, a verdade é que nenhuma entidade, obra ou arquivo me conseguia explicar onde teria sido depositado tão grande pedaço da história algesina.
A ponte velha de Algés foi construída em 1608 e demolida nos anos 40 do século passado aquando do encanamento da ribeira, desde esse acontecimento que nunca mais se soube do seu paradeiro, até ontem.
De visita ao Palácio Pimenta, onde esta instalado o museu da cidade de Lisboa, a propósito de ver pessoalmente algumas peças e os jardins, aproveitei e visitei a exposição permanente sobre a história de Lisboa. Pena tive que a parte que nos mostra as origens pré históricas da cidade até ao século XVI) estivesse vedada, para obras ... desde Março (sem que ainda tenham sido iniciadas nem se ter contemplado uma redução nos 3 Euros da entrada).
Restou-me então a relevante evolução da cidade nos últimos cinco séculos, e uma vez que foi a primeira visita que efectuei, sentia uma lógica curiosidade sobre o que iria encontrar naquelas salas. Ao entrar na primeira sala, parei no centro para efectuar uma vista geral ... louças de várias origens e vidros descobertos na Casa dos Bicos e no campo das Cebolas, alguns magníficos painéis de azulejo retratando a Lisboa pré terremoto de 1755, sinos de antigas igrejas lisboetas e alguns pedaços de edifícios retirados dos escombros do terremoto ... e de repente algo me chamou a atenção, junto à entrada perto de mim, duas lápides uma com o brasão da cidade outra dizendo "A CIDADE MANDOU FAZER ESTA PONTE NO ANO DE 1608"... ao ler estas palavras quedei-me entregue a uma imensidão de pensamentos em catadupa, seria possível que, aquelas sejam as lápides da ponte Velha de Algés que à anos procurava e que ninguém sabia onde se encontravam? Eram idênticas em tudo, mas sabendo eu que a cidade mandou construir diversas pontes nesse ano, pelo menos três no concelho de Oeiras e outras tantas em Lisboa (em todas foram colocadas lápides idênticas, como na da Cruz Quebrada por ex), seria necessário ou a comparação fotográfica, ou a existência da sua proveniência nos registos das peças. As peças eram o item nº 1 da exposição, e na discrição apenas constava: "lápides com o brasão da cidade e data de construção 1608", nada que me indica-se de onde teriam sido retiradas, perguntei aos técnicos da CML, nada sabiam, consultou-se o arquivo on line a descrição era a mesma, no entretanto chama-se mais um técnico que prometeu ir investigar a questão e a coisa ficou por ali.
Fotografei então as lápides mas desde logo, as fracturas no cimo, onde originalmente se encontravam duas cruzes, me pereceram familiares, e não me enganei, ao comparar as peças existentes na exposição com as fotografias que temos em arquivo, as semelhanças são evidentes e claras.
Estamos portanto, perante uma importante relíquia das memórias algesinas, felizmente estão bem conservadas, expostas ao público para que todos as possam apreciar, tinha-se era perdido o conhecimento da sua origem e o seu passado, mesmo assim foram consideradas de muito relevo pela CML, a ponto de serem apresentadas nesta exposição
Irei informar a CML destes novos dados de modo a que seja atribuída a correcta classificação ás peças, conservando-se assim, para memória futura um pedaço de história de Algés que se julgava desaparecida, bendita a hora em que me lembrei de visitar o palácio Pimenta e o museu da cidade.
Rui, foi uma descoberta e tanto. Me atraem muito esses marcos de pedra portugueses. Esse da nossa Algés, foi o máximo. Por aqui no Rio e arredores um dos meus hobbies é procurar esses marcos, principalmente os das sesmarias. No livro do tombo dos jesuítas relata na demarcação das terras no século XVI e XVII a existência deles espalhada por esse sertão a fora. E não são poucos. O original é um manuscrito (s) quase impossível de ler. Felizmente teve um estudioso de filologia que o trancreveu. Mas, não adiantou muito em nossas buscas porque o relato é tipo, rio acima até uma frondosa árvore a n léguas da costa, não sei quantas braças depois da pedra para norte e por aí a fora. Eu queria era cartografia, mapas. Todo o Brasil tem das sesmarias, menos no Rio. Até já escrevi para Torre do Tombo a pedir e não tive resposta. As cartas aqui do Rio existiam. Mas estavam numa biblioteca que devido a uma disputa entre o Estado e proprietários com a arrecadação de impostos, puseram fogo nela para fugir aos tributos. Rsrsrs ! Mesmo assim, depois de árdua pesquisa em Arquivos da Cidade, Instituições, Obras raras, Bibliotecas Nacionais e internacionais, conseguimos localizar alguns e nos metemos mato a dentro à caça destes marcos. É um grande prazer os descobrir....quando conseguimos. Imagine Rui, o contentamento que tive quando vc descobriu o paradeiro desse marco desaparecido de Algés. Parabéns !
ResponderEliminar