sexta-feira, 9 de março de 2012

Praça de Touros de Algés (1895 - 1974)


Um dia as minhas navegações na internet levaram me a ler estas linhas de um livro de Alice Vieira, António Pedro Ferreira (que nem sabiam que a praça foi demolida em 1974 e não nos anos 60) que a seguir publico, a coisa mexeu tanto comigo que...nesse mesmo dia decidi que não iria deixar cair no esquecimento a Historia da Praça de Toiros de Algés

Esta Lisboa - Resultado da pesquisa de livros do Google

books.google.pt/books?isbn=9722108697...Alice Vieira, António Pedro Ferreira - 1993 - History - 200 páginas
Sabe-se, no entanto, da existência de outra praça de touros que, em meados ...construído à entrada de Algés. Mas este acabou por ser demolido em 1960, e até ...Não lhes chamavam assim, evidentemente, nem mereceram ficar na história...




“ Vae construir-se muito brevemente em Algés ao norte da estrada real uma nova praça de touros.
Consta-nos que será um vasto e bem construido circo. O seu custo está orçado em cinquenta contos de rèis.
A praça fica n’ un sitio magnifico de onde se disfructa um lindo panorama de terra e mar - muito accessivel e para onde ha transportes faceis, commodos e baratos. Por tudo isto será ella ‘preferida à do Campo Pequeno para onde os transportes são difficeis e caros. “(1)

Em 5 de Outubro de 1893 era assim noticiada na imprensa regional ,a construção da Praça de Touros de Algés. Construída por um grupo de socios do Real Clube Tauromáquico é inaugurada a 23 de Maio de 1895 com capacidade para 7 500 espectadores.

Às vésperas da inauguração a Gazeta de Oeiras dava nota do seguinte comentário :

“ Trabalha-se activamente nas obras d’esta praça afim de se poder dar a 1ª corrida no dia 23 d’este mez.
O circo está elegantissimo. O seu risco é do distinto conductor o nosso illustre amigo o sr. Alfredo Bettencourt de Mello. É feito de cantaria e ferro tem 100 metros de raio e uma só ordem de camarotes. Circunda-o uma avenida de 20 metros de largura.
Na sua construção foram introduzidos todos os modernos aperfeiçoamentos.
O esplendido local onde está edificado, a facilidade de communicações para lá e os atractivos do mar e da campina são de certo mais que muitos para atornarem a primeira praça de touros do paiz “(2)
Após vários anos de abandono e degradação foi em 1974 demolida. O que resta do esplendor e ruina somente as fontes históricas nos deixam vislumbrar em pormenor.



(1) A Gazeta de Oeiras, nº28 , de 5 Novembro de 1893
(2) A Gazeta de Oeiras , nº 107 de 12 de Maio de 1895


Caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro in António Maria, nº 422, 30 de Maio de 1895, p64 


A historia da Praça de toiros de Algés por Manuel Andrade Guerra

A praça de toiros de Algés foi inaugurada em 1895 (3 anos depois da inauguração do Campo Pequeno), com o propósito de constituir uma alternativa à praça de Lisboa, objectivo nunca alcançado, embora se tratasse de um tauródromo com apreciável lotação (7500 espectadores), simples mas confortável, a que podia aceder-se por comboio, autocarro ou eléctrico e junto do qual estava periodicamente instalada uma animada feira.

Ali tourearam o mais importante matador do século XIX, Rafael Ortega "Guerrita", o inesquecível José Gomez Ortega "Gallito" e muitas outras Figuras do toureio a pé e a cavalo.
Em 1953, foi em Algés que o saudoso Manuel dos Santos (após a sua primeira retirada) iniciou o seu percurso empresarial. Montou magníficos carteis, mas os aficionados continuavam a preferir o Campo Pequeno e Manuel desistiu, até que em 1963 assumiu a gerência da Sociedade Campo Pequeno dando início a uma década fabulosa, os melhores anos da Monumental de Lisboa.

A mais importante efeméride, a que tive o privilégio de assistir ainda criança em 1957, foi a histórica actuação do Dr. Fernando Salgueiro, na célebre nocturna, que muitos consideram o modelo ideal do Toureio Equestre. A má gestão, em décadas anteriores, foi ditando o progressivo declínio da praça que, curiosamente, serviu de cenário a dois filmes - "A Severa" (Portugal) e a uma película policial - "Eddie em Lisboa" (França), protagonizada pelo então muito popular Eddie Constantine e estreada no Cinema Condes...
 Entretanto, Algés, assistiu à degradação da sua praça, praticamente inactiva desde 1960, embora ali se tenham realizado alguns espectáculos sem continuidade. Décadas mais tarde, ocorreu a inevitável demolição.


O filme de Eddie Constantine  "Mission Lisboa" filmado em parte na praça de toiros de Algés em  1959




partilhamos aqui tambem e para possam sentir melhor como eram as corridas nesta em tempos gloriosa praça de toiros, um excerto do filme  «A SEVERA» onde aparece a praça de Algés


«A SEVERA» - parte 7 




no Blog Oeiras local encontrei este interessante artigo de Clotilde Moreira que aqui transcrevo

A PRAÇA DE TOUROS
Uma História, lembranças e fantasia

Nos fins do século XIX foi construída a Praça de Touros de Algés, pelo clube Tauromáquico e as touradas tinham uma fama espantosa. Muitos foram os artistas de renome incluindo Manuel Casimiro conforme se lê nas Memórias da Linha de Cascais.

Quando comecei a ter atenção a esta Terra, a Praça estava velha e abandonada e, já não sei quando, foi deitada abaixo. Mas lembro-me de se falar que iam fazer um grande, grande prédio coisa para mais de vinte andares. Logo muitos mostravam estranheza que isso fosse possível pois, diziam que a ribeira que por ali passava tal não permitia. E dissertavam sobre leitos de cheia, fundações, ribeiras tapadas indevidamente. Eles falavam e eu ia ouvindo e aprendendo.



Ultimamente lá esteve o terreno abandonado, cheio de carros e lixo com uma rede à volta. Parece que tentaram levar o dono a dar-lhe um ar mais aprazível dado tratar-se de uma entrada não só de Algés, mas de todo o Município. Até parece que foi redigido um “protocolo” pela Câmara: mas nada, o abandono continuou.

Porém, parece que já encontraram uma solução: não entrando no terreno que é particular, mas na linha periférica envolvente que é área pública, foi colocada uma rede metálica que irá ser rematada com “muro” de plantas e – parece – com cartazes.

Vamos lá a ter esperança e fazer votos para que aquele sítio fique mais atraente; depois informo para virem cá ver.

Apenas uma pergunta: mesmo sendo terreno privado, mesmo não conseguindo fazer um grande negócio para que estava perspectivado, o particular não devia ter a obrigação de manter o terreno limpo e aprazível? Esta pergunta estende-se a todos os terrenos, prédios etc. que estão abandonados.



Ilustração Portuguesa N.º 430 1914

Ilustração Portuguesa N.º 745 19201

Ilustração Portuguesa N.º 868 1922 


Depois da pesquisa que fiz descobri que também havia fados e guitarradas regularmente na Praça de Algés, tendo até nomes ilustres do nosso Fado vindo tocar a Algés, aqui partilho convosco então o material que encontrei no Museu do Fado

Praça de Toiros de Algés, 1939


Canção do Sul, 1 de Agosto, 1936, p. 1




Réplica de programas de mão de touradas em Algés , 1917






1938 ASPECTO DA ASSISTÊNCIA À CORRIDA DE TOUROS EM ALGÉS, A FAVOR DO FUNDO DE ACÇÃO SOCIAL DA BRIGADA AUTOMÓVEL DA LEGIÃO PORTUGUESA.









curiosa fotografia sem data de um jogo de basquetebol ao lado da praça de Algés, provavelmente durante a feira que ali se realizava regularmente





localização da antiga praça de toiros de Algés


os meus agradecimentos sinceros á ajuda dada pelos membros da pagina do facebook Frente de Acção pró Taurina e ao Sr Manuel Andrade Guerra pelo seu excelente texto

11 comentários:

  1. Um verdadeiro crime!
    Penso mt na Praça de Algés, pois tenho alguns cartéis de corridas feitas nesta praça de touros, onde actuaram em muitas tardes de glória o Grupo de Forcados Amadores de Santarém

    ResponderEliminar
  2. Para mim que sou lá de outras bandas, foi uma surpresa este artigo. Por sinal muito bem elaborado.
    Muitas vezes a evolução significa regressão...

    ResponderEliminar
  3. Agradeço a todos os que queiram colaborar na preservação da história desta ilustre praça de toiros, com artigos pessoais, testemuhos de factos ou acontecimentos, material multimedia (bilhetes dos espectaculos, fotos das corridas, cartazes e material afim (mesmo que nao esteja digitalizado haverá forma de o fazer), filmes (que temos forma de converter em formato digital a partir de filmes antigos)o o que achem ser de relevo sobre este assunto me contactem através do email da Gazeta de Miraflores - gazetademiraflores@hotmail.com , a historia da tauromaquia nacional agradece.
    o meu obrigado
    Rui Teodósio

    ResponderEliminar
  4. Excelente trabalho! Parabéns.... oxalá o vosso "progresso"
    não chegue à minha Moita!

    ResponderEliminar
  5. O poster refere-se ao filme "espionage in lisbon" que é de 1965 e não tem a participação de eddie constantine. O filme de Eddie chamava-se em francês "Ça va être ta fête"

    ResponderEliminar
  6. O filme do Eddie Constantin era "Cá va etre ta fete" http://www.imdb.com/title/tt0055649/ e não o que consta do poster

    ResponderEliminar
  7. Muitos parabéns, está de facto um óptimo artigo. Lamento imenso terem destruído a praça de touros, pois era uma referência de Algés que recordo com saudades. Embora já estivesse bastante degradada, poderiam tê-la restaurado e, se possivel até com lojas, cafés com esplanadas ou...mesmo com nada, o edifício já valia por si só. Foi de facto uma pena, tal como tantos outros edifícios ex-libris destruídos na nossa querida Lisboa!

    ResponderEliminar
  8. Sinceramente a parte que mais gostei foi das duas ultimas fotos. :)))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Soube a pouco... Deviam de haver mais praças de touros em ruínas ou demolidas... Não fazem cá falta nenhuma!

      Eliminar
  9. bom dia, tenho 58 anos , nasci e vivi em alges até 1983- recordo-me de ter guardado durante algum tempo uma copia do jornal que não sei qual era onde vinha o desenho das torres que iriam ser construidas no espaço da praça de touros demolida então- eram uma ou umas torres cilindricas, gostava tanto de poder ver esse priojecto mas não consigo encontrar em lugar nenhum..alguem sabe onde saiu esta noticia?

    ResponderEliminar
  10. As melhores fotos foram as últimas .. com a demolição da mesma. Outras praças deveriam ter seguido o mesmo caminho, sendo hoje ou ruínas ou apenas memórias de uma "cultura", que deveria ser apelidada de "coltúra", de gente miudinha que gosta de ver animais a sofrer... Enfim, o Bastinhas que arda no inferno pelo que fez!!! Hoje não passa de um monte de líquido rançoso apegado a ossos.

    ResponderEliminar