domingo, 28 de fevereiro de 2016

Parque Residencial e Turístico de Miraflores a história da construção




O projecto "Miraflores Lux" inicia-se em 1965, sendo coordenado pelo Engº Eurico Ferreira Gonçalves com a responsabilidade das diferentes especialidades assim distribuídas:


Arquitetura: ...Prof. Arqtº Carlos Antero Ferreira

Urbanização: Arqtº António Sérgio

Arquitetura paisagistica: Arqtº Gonçalo Ribeiro Teles
Decoração: Arqtº Pimentel Lobo
Engenharia Civil: Engº José Augusto Fernandes
Engenharia de instalações: Eng. Camacho Simões


Os trabalhos de urbanização já em curso no ano de 1965 e foram confiados á firma Alves Ribeiro,Lda.

A área total do vale de Algés onde a urbanização foi construída é de 475.000m2 e previa-se a edificação de 850.000m2 para albergar 4.500 famílias das classes mais evoluídas , com um prazo previsto de duração da construção do empreendimento de 8 anos.Miraflores, realizaria na frase de Eça de Queiroz, o sonho de uma quinta com porta para o Chiado.


A construção da localidade iniciou-se em 1969. Na altura não havia nenhuma quinta Miraflores, mas sim um conjunto de pequenas quintas e algumas áreas de residência das pessoas que laboravam nas referidas quintas, essas quintas vêm referidas em cartas Militares pelo menos desde 1800 e ainda restam duas, a quinta da Formiga junto à entrada da CRIL para Miraflores e um ultimo reduto entre o campo do UDRA e a Av. dos Bombeiros Voluntarios a quinta do Bicho da Seda.


Miraflores foi urbanizada, desenvolvida e construída por Juan Mechó (um espanhol radicado em Portugal) e pela sua empresa HABITAT (da qual partilhamos o logotipo), o conceito da urbanização, baseado nas já então construidas em Espanha, nomeadamente nos bairros de Madrid, em que a urbanização era fechada sobre si, tinha todas as infra-estruturas básicas para apoio aos residentes (supermercado, escolas, comércio e as suas infra-estruturas desportivas, no caso de Miraflores, courts de ténis e piscina), bem como a novidade para a época de cada prédio ter garagem subterrânea. Os primeiros prédios ficaram prontos (o edifício Compave hoje os nºs 37 ao 43 da Av. das Tulipas os Edifícios Orquidias os três prédios junto á esquadra da PSP e o edifício da frente das Tulipas), tendo as primeiras famílias começado a instalar-se por volta de meados de 1970.

Parque Residencial e Turístico de Miraflores a história da construção parte I, os Edifícios Compave




A Urbanização do Vale de Algés foi requerida por Joaquim Peña Mechó em 1960. Foi então constituída a sociedade HABITAT, presidida pelo proprietário do terreno. Esta sociedade propunha-se a desenvolver a Urbanização do Vale de Algés, bem como um plano de desalojamento do bairro de Santas Martas e Pereiro/Quinta das Romeiras com área aproximada de 1,34 hectares situados no Vale da Ribeira de Algés. «Um grande conjunto residencial, devidamente apetrechado, prevendo que as habitações venham, na sua maior parte,a ser adquiridos pelos moradores em regime de propriedade horizontal»“Á priori” previa-se que este plano não fosse aceite porque cerca de metade dos terrenos da referida quinta estavam classificados como zona rural, no entanto, essa decisão foi reconsiderada tendo em conta as vantagens sociais daí resultantes – pretendia-se constituir uma fundação, à qual seria atribuída uma contribuição de 20000 contos destinada a suprimir os bairros de barracas existentes naquele local desde os anos 40 do século XX.
 O Estudo de Urbanização do Vale de Algés foi elaborado pelo arquitecto Manuel Norberto Freire de Oliveira Corrêa, até 1963, altura em que este deixa de prestar colaboração com a empresa devido a divregências de ordem contratual com a empresa.
 Em 1970 foi apresentado o Plano de reestruturação do sector norte relativo à Urbanização do Vale de Algés com a designação – Primeira Fase da Urbanização do Parque Residencial e Turístico de Miraflores(1), mantendo-se como uma iniciativa da HABITAT – Empreendimentos Imobiliários S.A.R.L. agora em associação com a COMPAVE – Sociedade de Compra, Administração e Venda de Propriedade S.A.R.L. Desta primeira fase da construção merecem destaque alguns edifícios que pelas suas características permitem mais uma vez evidenciar quais os princípios base que habitualmente estes projectos seguiam.





Os Edifícios Compave




 No topo norte da urbanização, junto á alameda Fernão Lopes, destacam-se um conjunto formado por duas torres e dois blocos, os chamados edifícios "Compave"
cuja construção tem inicio em 1970(2), com a responsabilidade do engenheiro civil Manuel Rêgo(3).
 Os dois blocos, destinados à venda em regime de propriedade horizontal, com 13 pisos de habitação, estão implantados paralelamente, sendo as suas fachadas de maior dimensão expostas a nascentee a poente. O bloco confinante à avenida das Tulipas foi dividido em quatro lotes, enquanto o edifico a poente foi apenas dividido em três lotes.





O rés-do-chão é tratado como um piso vazado, sendo apenas ocupado pelo vestíbulo de entrada, possibilitando um acesso fácil á zona de logradouro panorâmico(4).
 Cada piso compreende dois fogos, sendo que cada fogo tem um acesso principal e um acesso de serviço. Os acessos verticais são assegurados por uma escada de tramos rectos, por um monta-cargas e dois ascensores, constituindo estes a coluna de distribuição vertical, que integra ainda duas condutas verticais onde irão instaladas as colunas montantes de electricidade e as instalações de gás, água e telefone. Nos estendais localizam-se condutas de recolha de lixos domésticos. Ao nível da organização interna dos fogos, houve o cuidado de os dotar de amplas varandas orientadas para sectores de interesse panorâmico. A variação ao nível do interior verifica-se com a introdução de um quarto destinado exclusivamente a pessoal de serviço e a partição da sala em zona de refeições e zona de estar. O número de quartos, quatro, mantêm-se em todos os fogos.
 Construtivamente foi prevista uma estrutura modulada de betão armado constituída por pórticos transversais e longitudinais responsáveis por resistir às solicitações verticais e horizontais.






As duas torres, que se seguiram, são da autoria do arquitecto João Castelo Branco(5), com projecto datado de 1973-1977. Cada torre com 19 pisos, destinou-se à venda em regime de propriedade horizontal, sendo ocupada exclusivamente com uso habitacional, comportando cada uma 57 fogos.
 Procurou-se um volume de linhas simples, inscrito num quadrado procurando-se integrá-lo no conjunto urbanístico em construção. Nos estudos dos alçados atendendo à elevada cércea do imóvel, houve a preocupação de realizar uma nítida marcação de elementos horizontais, devidamente equilibrados com panos de leitura vertical revertidos com material vitroso e que afigura com francas possibilidades de vir a constituir um conjunto harmonioso(6).


 O edifico engloba uma cave destinada a arrecadações privativas de cada fogo, um piso em rés-do-chão com pilares da estrutura á vista, ocupado apenas com entradas principal e de serviços, casa de porteiro e casa de lixos. No átrio principal desenvolve-se ainda uma sala de reuniões dos condóminos e uma pequena loja de apoio. Os pisos tipo, comportam três fogos, dois com quatro assoalhadas e um com cinco. Os programas são respectivamente: hall, sala de estar, sala de comer, dois quartos, duas casas de banho, zona de serviços com copa, dispensa, cozinha, zona de engomados e zona de lavagens, instalação sanitária de serviço e varanda de serviço. Os fogos de cinco assoalhadas têm mais um quarto. Todos os fogos são dotados de amplos terraços panorâmicos. No último piso habitacional, o 19º, desenvolvem-se três fogos; um apartamento com uma ampla sala comum, dois quartos, duas casas de banho e serviços (cozinha, despensa, engomados, e Instalação sanitária de serviço); uma habitação com o seguinte programa: hall, sala comum com terraço panorâmico, dois quartos, duas casas de banho e serviços de cozinha, despensa, engomados, zona de lavagens, instalação sanitária e varanda de serviço; e um apartamento com duas amplas zonas: de comer e estar e intima e respectivos serviços. Esta habitação dispõe ainda de amplos terraços panorâmicos.Cada fogo terá um acesso principal e um acesso de serviço, sendo os acessos verticais assegurados respectivamente por dois ascensores principais e dois ascensores de serviço e por uma escada que se desenvolve no átrio principal.








 Como remate do edifício a casa das máquinas dos ascensores, acesso ao terraço e uma zona coberta destinada a convívios dos condóminos. A estrutura do edifico é essencialmente constituída por: fundações por sapatas isoladas de betão armado; pórticos de betão armado; lajes maciças de betão armado; caixa de acessos verticais em betão armado a qual irá absorver os esforços resultantes da acção dos ventos e dos sismos; os restantes elementos tais como platibandas, palas, etc., serão também em betão armado. Os restantes enchimentos das paredes são em alvenaria de tijolo. Ao nível do tratamento do espaço exterior, houve a preocupação de respeitar o arranjo paisagístico elaborado para todo o conjunto.











(1) Este Plano teve despacho ministerial favorável em Janeiro de 1971, apenso aos processos 3181-PB 1698/70 (o autor deste plano, não foi possível apurar).

(2) A obra decorreu entre 1970 e 1973.

(3)Manuel Cândido Sena Rêgo – engenheiro civil inscrito na CMLoures com o nº699.

(4) Sob este logradouro, em semi-cave localiza-se uma zona de arrumação dos utentes dos fogos

(5)João Queiroz de Abreu Castelo Branco – arquitecto inscrito na CMOeiras com o nº 1888.

(6) BRANCO, João Castelo. Memória descritiva e justificativa, obra nº 208-PB/73, 1973, Arquivo Municipal de Oeiras


Fontes :

[IN]FORMAR A CIDADE CONTEMPORÂNEA: a criação de uma imagem/modelo de periferia com a obra do arquitecto Fernando Silva - BRUNO ANDRÉ MACEDO FERREIRA

Arquivo Municipal da CMO

Agradecimentos ao Nuno Picardo pela disponibilização do folheto publicitário da venda das torres Compave