sábado, 4 de junho de 2016

Parque Residencial e Turístico de Miraflores a história da construção, parte II, os edifícios "Tulipas"





A Urbanização do Vale de Algés foi requerida por Joaquim Peña Mechó em 1960. Foi então constituída a sociedade HABITAT, presidida pelo proprietário do terreno. Esta sociedade propunha-se a desenvolver a Urbanização do Vale de Algés, bem como um plano de desalojamento do bairro de Santas Martas e Pereiro/Quinta das Romeiras com área aproximada de 1,34 hectares situados no Vale da Ribeira de Algés. «Um grande conjunto residencial, devidamente apetrechado, prevendo que as habitações venham, na sua maior parte,a ser adquiridos pelos moradores em regime de propriedade horizontal»“Á priori” previa-se que este plano não fosse aceite porque cerca de metade dos terrenos da referida quinta estavam classificados como zona rural, no entanto, essa decisão foi reconsiderada tendo em conta as vantagens sociais daí resultantes – pretendia-se constituir uma fundação, à qual seria atribuída uma contribuição de 20000 contos destinada a suprimir os bairros de barracas existentes naquele local desde os anos 40 do século XX.
 O Estudo de Urbanização do Vale de Algés foi elaborado pelo arquitecto Manuel Norberto Freire de Oliveira Corrêa, até 1963, altura em que este deixa de prestar colaboração com a empresa devido a divergências de ordem contratual com a empresa.
 Em 1970 foi apresentado o Plano de reestruturação do sector norte relativo à Urbanização do Vale de Algés com a designação – Primeira Fase da Urbanização do Parque Residencial e Turístico de Miraflores, mantendo-se como uma iniciativa da HABITAT – Empreendimentos Imobiliários S.A.R.L. agora em associação com a COMPAVE – Sociedade de Compra, Administração e Venda de Propriedade S.A.R.L. Desta primeira fase da construção merecem destaque alguns edifícios que pelas suas características permitem mais uma vez evidenciar quais os princípios base que habitualmente estes projectos seguiam.

Os edifícios "Tulipas"



 Da zona poente, próximo da Urbanização de Linda-a-Velha, destaca-se os três blocos da responsabilidade de Rui d’ Athouguia(1), iniciados em 1972.(Tulipas)
 Os três blocos, implantados paralelamente, têm a altura de 13 pisos. A cave desenvolve-se em três pisos, os dois primeiros (parcialmente enterrados) destinam-se a estacionamento e arrecadações, o terceiro piso, é tratado como um espaço polivalente para recreio dos utentes mais jovens(2), havendo a possibilidade de se prolongar para o espaço exterior. O rés-do-chão, onde se localiza a entrada do prédio é ocupado, encontra-se ligeiramente recuado em relação ao restante volume da edificação e integra a habitação do porteiro, pequenos espaços comerciais e o compartimento de recolha dos lixos. Os fogos, dois por piso, organizam-se segundo um tradicional esquema direito/esquerdo, sendo os acessos verticais efectuam-se através de uma escada e dois ascensores.«
 No que respeita à constituição, procurou-se organiza-lo [o fogo] dentro dos moldes tradicionais, proporcionando aos futuros utentes, condições de utilização e comodidade superiores ao nível habitual neste tipo de habitações, no que respeita a áreas utilizáveis, sua distribuição, materiais de acabamento e equipamento.







Sob o ponto de vista de distribuição interna(3) procurou-se conseguir um esquema orgânico e claro, de aproveitamento máximo, criando zonas bem diferenciadas consoante as suas funções e com a devida articulação entre si(4).
 Do ponto de vista construtivo, os elementos de suporte do edifico baseiam-se numa estrutura monolítica bem definida, pilares e vigas incorporados num conjunto porticado em dois sentidos ortogonais.Os pavimentos serão constituídos por lajes maciças de betão armado. As restantes paredes de fecho da estrutura, serão construídas em alvenarias de tijolo cerâmico furado. A cobertura é em telha sobre laje devidamente impermeabilizada e isolada de modo a garantir perfeitas condições de habitabilidade ao último piso da construção.Em 1983, é apresentado um projecto de alterações da responsabilidade do arquitecto Artur Parrinha(5), estas alterações são essencialmente de pormenor e de uma maneira geral não modificam o partido adoptado. Em Julho de 1984, agora da responsabilidade do arquitecto Luís Trouillet Pessoa(6), é apresentado um novo projecto de alterações, visando a substituição dos materiais da fachada que era previsto ser em betão descofrado e agora passam a ser em mosaico
EVINEL com duas cores contrastantes.

Notas :

(1) Rui de Sequeira Manso Gomes Palma Jervis de Athouguia Ferreira Pinto Basto – arquitecto inscrito na CMOeiras nº 160

(2) ATHOUGUIA, Rui d’. Memória descritiva e justificativa, obra nº 3078-PB/72, 1971, Arquivo Municipal de Oeiras.

(3) (4) Cada fogo foi dividido funcionalmente em duas zonas: zona de permanência diurna: constituída por uma sala comum, com ligação imediata a um vestíbulo de entrada e ao vestíbulo de acesso a dois quartos e instalação sanitária. A sala comum comunica com a zonade serviços através de um percurso mínimo. Os serviços são constituídos por uma cozinha devidamente equipada, uma despensa eestendal, zonas que se desenvolvem linearmente; zonas de permanência nocturna: constituída por três quartos completamente independentes, tendo um deles instalação sanitária privativa e um outro quarto situado junto á sala comum e com comunicação francacom esta zona de modo a permitir a sua integração num único espaço, funcionando este quarto como extensão da zona de estar.O último fogo, tratado como andar recuado, apresenta-nos um partido composicional mais livre, baseado na comunicação franca daszonas de permanência diurna (zona de preparação de refeições comer estar). Um pequeno vestíbulo ou antecâmara separa esta zona

(4) Artur Bernardo dos Santos Parrinha – arquitecto inscrito na CMO com o nº 1905

(5) Luís Manuel Trouillet Pessoa – arquitecto inscrito na CMO com o nº 1942



Fontes -

- [IN]FORMAR A CIDADE CONTEMPORÂNEA: a criação de uma imagem/modelo de periferia com a obra do arquitecto Fernando Silva - BRUNO ANDRÉ MACEDO FERREIRA

- Arquivo da C.M.O.