terça-feira, 3 de abril de 2012

Navios encalhados na praia de Algés

Trago hoje estas noticias referentes a dois navios encalhados na praia de Algés,
o NRP «Afonso de Albuquerque» e o vapor "Alferrarede"



NRP «Afonso de Albuquerque» 
encalhado na praia de Algés depois de ter sido atingido
 pelas peças do forte do Alto do Duque

NRP «Afonso de Albuquerque» encalhado na praia de Algés


No verão de 1936 membros da ORA (  Organização Revolucionária
da Armada, ramo do Partido Comunista)  gizaram um plano de se sublevarem em três
unidades então fundeadas no Tejo, o "Afonso de Albuquerque", o "Bartolomeu
Dias" e o contratorpedeiro "Dão", dominarem a oficialidade e saírem da barra
para lutar ao lado da esquadra republicana espanhola.
O plano começou a concretizar-se na noite de 8 para 9 de Setembro desse ano.
Os revoltosos não conseguiram o controlo do "Bartolomeu Dias". O oficial de
serviço não aderiu à sublevação e, com o auxílio de vários tripulantes,
sabotou as máquinas e as caldeiras. Os implicados na rebelião passaram então
para o "Afonso de Albuquerque".
Esta unidade e o "Dão" levantaram ferro, na manhã seguinte, em direcção à
barra. Avisado do ocorrido, o Presidente do Conselho, então em férias no
Vimieiro, sua terra natal, perto de Santa Comba Dão, ordena que baterias de
costa abram fogo sobre os revoltosos.
Assim aconteceu. Granadas disparadas desde os fortes de Almada e do Alto do
Duque seriamente danificaram os dois navios e obrigaram o "Dão" a encalhar
perto da Trafaria e o "Afonso de Albuquerque" nas vizinhanças de Algés. Pelo
fim da tarde tudo havia terminado. Dez marinheiros haviam perdido a vida e
208 foram presos e levados para o Albergue da Mitra e para o Governo Civil.
Mais tarde a maior parte destes foi condenada a duras penas, a serem
cumpridas no campo prisional do Tarrafal, em Cabo Verde.



NRP «Afonso de Albuquerque» estragos verificados no navio







Marinheiros da Organização Revolucionária da Armada são conduzidos, sobre escolta, para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Outubro de 1936, por terem participado na revolta dos navios de guerra Bartolomeu Dias e Afonso de Albuquerque. Fotografia do Arquivo da Direcção-Geral de Comunicação Social.



o vapor "Alferrarede" encalhado em Algés



Um outro sinistro, desta feita a 15 de Dezembro de 1958 com o vapor "Alferrarede" A seguir o relato dessa ocorrência:



Notícia do temporal que se abateu sobre Lisboa

No Tejo, o temporal de ontem fez recordar o ciclone que, há quinze anos, afundou barcos, pôs outras embarcações em perigo e roubou a vida a alguns marítimos. As tripulações dos navios fundeados no rio e as dos barcos atracados aos cais, passaram tormentos durante a noite. As vagas impetuosas e a velocidade do vento puseram alguns barcos em risco de se perderem. A violência da tempestade destruiu o pontão da Ribeira Nova, onde normalmente atracam os barcos para a descarga do peixe e causou prejuízos em vários pontões. Durante a noite, o mar galgou a muralha da Ribeira Nova e invadiu os barracões da lota.
Alguns navios, tais como o “Gorgulho” e o “Andulo”, bateram fortemente nas muralhas dos cais e sofreram danos dignos de registo. Vários batelões foram arrastados pela fúria da tempestade, assinalando-se danos calculados, no conjunto, em mais de mil contos. A não ser as fragatas e outras embarcações de pequena tonelagem, recolhidas nas docas, desde segunda-feira, como medida de precaução, poucos foram os barcos de maior porte que escaparam aos tremendos efeitos do temporal. Raro foi o navio que não sofreu dano.
O “Sofala” da Companhia Nacional de Navegação, garrou em S. José de Ribamar e encalhou, safando-se, no entanto, pelos seus próprios meios. A tempestade no rio, com vaga forte e alterosa, e com as águas a correrem em velocidade, fizeram garrar outros navios, entre os quais o “Alfredo da Silva” e o “Maria Amélia”, que estavam fundeados no quadro central, em frente ao Terreiro do Paço, e o “Alenquer”, que se encontrava no quadro ocidental, pertencentes à Sociedade Geral.




O encalhe do navio “Alferrarede” na noite do dia 15, foi dos mais graves, como sinistro marítimo. O navio, também da mesma empresa e que havia no Domingo arribado a S, José de Ribamar, por não poder sair a barra com destino a Bone, garrou, devido à violência do mar e foi encalhar na praia de Algés. Os serviços técnicos da Sociedade Geral, logo que tiveram conhecimento do facto, mandaram seguir para o local o rebocador “Praia da Adraga”, que fez uma tentativa para o safar, mas nada conseguiu. Também o vapor “Pedro Rodrigues”, da Corporação dos Pilotos da barra de Lisboa, procurou desencalhar o navio, mas rebentou-se um cabo, desistindo da diligência. O “Alferrarede” de que é capitão o sr. António Camarate Carrilho, ficou à vista das pessoas que passavam na estrada marginal, onde se juntou uma multidão de curiosos, apesar da chuva e do vento.
Os trabalhos preparatórios para se proceder ao desencalhe começaram pouco depois, pelos técnicos da Sociedade Geral. Cerca das 18 e 30, o rebocador “Praia da Adraga”, com a poderosa força dos seus motores, ajudado pelo rebocador “D. Luís”, da Administração-Geral do porto de Lisboa, conseguiu safar o navio, que, logo a seguir subiu o rio.
(In jornal “O Século”, de 17 de Dezembro de 1958)


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