quinta-feira, 10 de maio de 2012

O Retábulo do Convento de São José de Ribamar








Com uma História a caminho do meio milénio, o Convento actualmente transformado no Palácio Foz, faz parte integrante das raízes de Algés. Da sua história consta que D. Francisco de Gusmão, Cavaleiro da Casa da Infanta D. Maria, donatário de vastos terrenos na orla do Reguengo de Algés, doou esses terrenos aos frades arrábicos, em 1559, para a fundação de um Convento evocando S. José. 

Mais tarde, o Cardeal D. Henrique ainda Infante, construiu nesse local três casas com uma Capela, e em 1595, o Provincial - Frei António da Anunciação, pela terceira vez erigiu o Convento, com uma albergaria de excelência para a época. Em 1834, dá-se o confisco dos bens das Ordens Religiosas, em proveito da Fazenda Pública e assim o Convento e as suas terras foram vendidas a João Marques da Costa Soares, um Capitalista, que em 1850 vendeu toda a propriedade a Andrade Neri, o qual mandou restaurar a encantadora Casa dos Arrábidos, assim como a bela Igreja. Em 1872, o Conde de Cabral comprou tudo e fez a muralha e a bela construção dos arcos que fica sobranceira à entrada. A Pousada foi transformada no palacete de airosas linhas, arcarias e colunas que permanecem até aos dias de hoje.

Hoje é propriedade privada fruto de um projecto de suposta reabilitação Urbana que mais uma vez coloca nas mãos de privados um edifício histórico único na Freguesia.





Fotografia do arquivo da CMOeiras



O Convento de Convento de São José de Ribamar é um pedaço enorme da história da Freguesia de Algés, marca a passagem de uma realidade rural e simples para uma nova era de modernismo e importância pela mão dos humildes frades arrábicos e do especial gosto de El Rei Dom João V por esta ordem. El Rei teria especial agrado pela simplicidade do seu convento e capela que visitava todos os dias pela manhã para assistir ao "coro das matinas", quando, em tempos de primavera e verão se hospedava no Palácio dos Duques de Cadaval em Pedrouços (hoje o Instituto de Altos estudos Militares).


 Ninguém melhor que o ilustre mestre Mário de Sampayo Ribeiro na sua genial obra "Da Velha Algés" 1938 para vos relatar estes factos (e outros tantos) que ilustram com palavras de enorme detalhe e paixão o grande contributo deste convento para a historia de Algés. Começamos então por transcrever as visitas de El Rei Dom João V ao Convento de São José de Ribamar :










Nas paginas 13 a 15 da mesma obra encontramos um relato impressionante em detalhe da historia geral do Convento, que apesar de ser de certo modo extensa vale de facto a pena ler






Penso estar devidamente documentada pela pena do ilustre Mário de Sampayo Ribeiro a história do Convento e dos seus frades arrábicos e vamos assim regressar ao assunto que é tema deste artigo o retábulo do Convento de São José de Ribamar.
O retábulo estava colocado na Capela (que segundo se conta foi cenário de vários milagres) e foi deslocado para o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), As duas pinturas "os Sete Mártires de Marrocos" e "O Milagre da Porciúncula  são hoje duas peças de especial importância no espólio deste museu e podem ser vistas nas suas salas.


Os Sete Mártires de Marrocos




Autor -  André Reinoso (act. 1610-1641)
Datação - 1635 d.C. - 1640 d.C.
Pintura a óleo, altura: 37; largura: 107;
A pintura evoca o martírio de sete pregadores franciscanos em Marrocos em 1227, ordenado pelo Miramolim de Ceuta, segundo a "Crónica da Ordem dos Frades Menores (1209 - 1285). A sentença de degolação é executada por quatro algozes mouros. A pintura, num friso de paisagem baixa e céu luminoso, evoca as três fases do martírio. Os dois santos do meio rezam enquanto esperam a sua sorte, os seguintes são representados em pleno martírio e os restantes, nas extremidades, repousam já tombados. Reinoso define as sombras de forma marcada, contrastando a pureza dos brancos e a vibrante luminosidade dos vermelhos e amarelos, com a surda pardacência dos trajes franciscanos.


O Milagre da Porciúncula


Autor -  André Reinoso (act. 1610-1641)
Datação - 1635 d.C. - 1640 d.C.
Pintura a óleo sobre madeira - altura: 172; largura: 98;

Cristo e a Virgem, rodeados de anjos, surgem em aparição a S. Francisco. O Santo colocara no altar da Capela da Porciúncula as rosas que tinham nascido miraculosamente de um silvado onde se deitara para resistir às tentações. A sua bondade é recompensada com a aparição divina. O tema serve a André Reinoso para um exercício entre a iluminação forte da aparição e as sombras densas e marcadas. Registe-se ainda a representação do frontal de altar e do belo tapete oriental.

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