terça-feira, 27 de junho de 2017

Vestígios da Pré-história na Região de Algés

1- Alto do Duque
2- Alto do Dafundo/ Alto de Santa Catarina
3- Praia do Dafundo
4- Cruz Quebrada
5- Miraflores, Casal de Barronhos
6- Linda-a-Velha
7- Outurela I
8- Outurela II


A LISBOA PRÉ-HISTÓRICA

 A região onde se situa a cidade de Lisboa foi, desde tempos imemoriais, ocupada pelo homem, As indústrias dos homens do Paleolítico Antigo e Médio, normalmente em sílex e quartzito, matéria-prima abundante, são as que se encontram melhor representadas.
 O período Mesolítico , considerado como uma época onde a sociedade de caçadores recolectores se foi iniciando, ainda que de forma rudimentar e incipiente, nas práticas que viriam a revolucionar mais tarde a história humana (agricultura, domesticação de animais, ...), é pobre em vestígios na região de Lisboa.
 Desde cedo que as condições naturais oferecidas pelas penínsulas de Lisboa e Setúbal, onde correm os estuários do Tejo e Sado e linhas de água subsidiárias destes, atraíram populações que se estabeleceram próximo das suas margens. Durante a fase da chamada revolução neolítica, caracterizada pelo desenvolvimento da agricultura e da pastorícia, a fertilidade da terra passava a ser um factor de primordial importância.
 O trabalho da terra exigia novas e inovadoras técnicas: aparecem, mós, machados e enxós (Instrumento para desbastar tábuas ou pequenas peças de madeira) em pedra polida. Por outro lado torna-se comum o fabrico de cerâmica.
 O Neolítico que se iniciou, na região onde se inclui a península de Lisboa, por volta do 6º milénio a.C., é testemunhado em povoados onde os vestígios arqueológicos são frequentes.
 Desde o período neolítico e até inícios do Bronze, foram identificados um assinalável número de povoados nesta região: no concelho de Oeiras, as estações do Alto do Dafundo, Linda-a-Velha e Barronhos; em Lisboa, na Cerca dos Jerónimos, na Quinta do Almargem (Junqueira), no Alto do Duque, no Alto dos Pinheiros e Paço do Lumiar, em Vila Pouca (na margem direita da antiga ribeira de Alcântara), Alto dos Sete Moinhos (sobre o mesmo vale onde corria aquela linha de água, mas do lado contrário), Montes Claros (no cimo da Serra de Monsanto, junto ao Picadeiro).
 As populações utilizaram sepulcros dolménicos e grutas naturais para a morada final dos mortos. São exemplo, entre outras: a gruta das Salemas e respectivo povoado, em Ponte de Lousa, (Loures); a gruta do Correio-Mor (Loures); as grutas do Poço Velho de Cascais, com bastante espólio (taças campaniformes, objectos votivos, etc.); a gruta de Nossa Senhora da Rocha em Carnaxide (Oeiras), nas imediações foi localizado o respectivo povoado; a gruta da Ponte da Laje(Oeiras); as grutas Cova da Moura e Cova da Onça (Lisboa).
 Relativamente a dólmens ou antas, os arredores de Lisboa apresentam testemunhos nos concelhos de Sintra e Loures. Outro tipo de monumentos funerários, nos quais foram depositados os restos mortais de comunidades do neolítico final e do calcolítico, são os hipogeus ou grutas artificiais, cujos exemplos se encontram em Vila Chã - Carenque (Amadora); Alapraia (Estoril); Casal do Pardo e Quinta do Anjo (Palmela). Existem ainda, enterramentos junto à Praia das Maçãs, Folha de Barradas, S. Martinho e Monge (Sintra), na Tituaria (Mafra).
 O início do trabalho dos metais e o acentuar de tarefas não directamente ligadas à terra, bem como os primeiros contactos comerciais com povos mediterrânicos, criaram acumulação de bens que era necessário defender. São criadas proto urbes fortificadas (castros) em locais estratégicos - situados em esporões e junto de áreas de grande fertilidade agrícola e onde correm linhas de água.
 As penínsulas de Lisboa e de Setúbal são ricas em povoados deste tipo: castro de Zambujal (Torres Vedras), Vila Nova de S. Pedro (Alenquer), Castro de Leceia (Oeiras). Pelo significado que podem ter na história da cidade de Lisboa, são de realçar os vestígios, de origem provavelmente calcolítica, recolhidos em Oeiras: no Alto do Dafundo/ Alto de Santa Catarina, na Cruz Quebrada, em Miraflores/Casal de Barronhos e Linda-a-Velha, e em Lisboa: na encosta do Alto do Duque e na colina do Castelo de S. Jorge, e que permitem pensar ter ali existido um povoado daquele período.




Pela importância dos achados pré-históricos na região da União das Freguesias e suas zonas anexas, criámos a partir de diversas publicações um mapa arqueológico dos achados na região, de modo a que de forma fácil e directa todos possam descobrir um passado importante e desconhecido por parte da grande maioria dos algesinos. Pena é que todos estes locais arqueológicos estejam hoje desaparecidos não restando mais que o pouco (que já é de relevante importância) que se conseguiu recolher em escavações na sua maioria de emergência, pelas entidades competentes, tendo com toda a certeza se perdido para sempre muito dos registos deste passado distante na região com a construção desenfreada das décadas de 80 e 90 do século passado. Irei neste artigo efectuar uma descrição simples e resumida destes achados, mas à medida que for possível irei compilar um artigo detalhado para cada um destes locais.


1- Alto do Duque

CNS: 18787
Tipo: Vestígios de Superfície
Localização: Ao norte de Pedrouços. junto ao Forte, sobre terrenos miocénicos do burdigallano inferior.
Período: Paleolítico, Neolítico e Calcolítico
Referência ao seu descobridor: talvez Joaquim Fontes ou Vergílio Correia. Já em 1916. Hugo Obermaier (p. 201) referencia ao achado do Alto do Duque.
Material: A alusão ao material. também só se consegue encontrar na dissertação de licenciatura de Isabel Amaral ( 1960: 118). quando esta descreve uma prospecção de Fernando Bandeira Ferreira. Este recolheu 33 peças de sílex. dois fragmentos de quartzo e três fragmentos de cerâmica. O local de depósito do que supomos ser o material inicialmente recolhido é o Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia. A sua referência surge no primeiro número do Arqueólogo Português da IV série, nos relatórios de remodelação e arrumação. (PEREIRA 1977:10).
Observações: Estação localizada numa zona militar. Difícil acesso.

Bibliografia
- PAÇO, Afonso do (1934) - Carta Paleolítica e Epipaleolítica de Portugal. In Trabalhos da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Lisboa. 1, p. 43 a 47.
- CARDOSO, João Muralha (1988) - Carta Arqueológica do Concelho de Lisboa II Inventário das Estações Arqueológicas. In Revista Municipal de Lisboa. Lisboa. 2º Série, 44: 24, p. 325.
- PAÇO, Afonso do (1937) - Paleo e mesolítico português. (Descobrimentos. Bibliografia). In Revista de Guimarães. Guimarães. 47:12, p. 824.


2- Alto do Dafundo/ Alto de Santa Catarina


In - Carta Arqueológica do Concelho de Oeiras - João Luís Cardoso e Guilherme Cardoso 1993

Revista Arqueologia e História "Lisboa pré-histórica - novas informações, à luz de antigos documentos"  João Luís Cardoso


CNS: 33
Tipo: Povoado
Localização: Alto do Dafundo/ Alto de Santa Catarina, Lisboa/Oeiras/Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo
Período: - Calcolítico inicial da Estremadura
Descrição: Elevação isolada com boas condições naturais de defesa, escolhida para assentamento de pequeno povoado pré-histórico, dominando toda a área vestibular do estuário do Tejo. Depósitos detrítico-carbonatados miocénicos Materiais líticos e cerâmicos, de superfície e recolhidos em estratigrafia. Vestí­gios de estruturas habitacionais  (buraco de poste). Na cerâmica, avulta a característica decoração canelada, aplicada a "copos"
Espólio: Fragmentos cerâmicos (lisos e decorados), fragmentos de lamelas de sílex e alguma pedra polida.
Processo: S - 00033
Tipo de Trabalho: Escavação
Ano do Trabalho: 1977
Projeto: Trabalhos Arqueológicos no Alto do Dafundo - Oeiras
Data de Início: 01/01/1977
Data de Fim: 31/12/1977
Objetivos: Levantamento topográfico e escavação do povoado.
Resultados: Detectou-se uma área habitacional com uma cabana apoiada numa estrutura pétrea, em torno da qual se dispersa o material arqueológico. O local apresenta boas defesas naturais, mas não apresenta quaisquer vestígios de fortificações. Estão também ausentes vestígios de estruturas de combustão. O material recolhido parece inserir este povoado no Calcolítico Inicial (um único nível de ocupação).
Responsável: João Ludgero Marques Gonçalves

Bibliografia
- CARDOSO, João Luis Serrão da C. e CARDOSO, Guilherme (1994) - Carta Arqueológica do Concelho de Oeiras. In Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras (Estudos Arqueológicos de Oeiras, 4), p. 126.
- FERREIRA, Sónia Duarte (2003) - Os copos no povoado calcolítico de vila Nova de São Pedro. In Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia. 6:2, p. 181 a 228. BA:0423.


3- Praia do Dafundo

CNS: 15507
Tipo: Vestígios de Superfície
Localização: Lisboa/Oeiras/Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo.
Período: Paleolítico Inferior e Paleolítico Médio
Descrição: Materiais líticos, de calcário, basalto, sílex, quartzo e quartzito, recolhidos à superfície na praia actual da margem norte do estuário do Tejo, a montante da foz do Rio Jamor.

Bibliografia
- CARDOSO, João Luis Serrão da C. e CARDOSO, Guilherme (1994) - Carta Arqueológica do Concelho de Oeiras. In Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras (Estudos Arqueológicos de Oeiras, 4), p. 126.
- CARDOSO, João Luis Serrão da C., PENALVA, Carlos e ZBYSZEWSKI, Georges (1979) - Indústrias pré históricas nas praias actuais da Costa Norte da Foz do Tejo. In Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 65, p. 239 a 251.


4- Cruz Quebrada

CNS: 11250
Tipo: Vestígios de Superfície
Localização: Lisboa/Oeiras/Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo
Período: Calcolítico e Idade do Ferro
Descrição: Trata-se de um conjunto de materiais cerâmicos identificados de forma dispersa junto ao leito do Rio Jamor, na margem esquerda, no limite da povoação. Na praia junto à foz do Jamor encontra-se dispersos materiais líticos atribuíveis ao Paleolítico.
Meio: Terrestre

Bibliografia
- CARDOSO, João Luis Serrão da C. e CARDOSO, Guilherme (1994) - Carta Arqueológica do Concelho de Oeiras. In Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras: Câmara Municpal de Oeiras (Estudos Arqueológicos de Oeiras, 4), p. 126.


5- Miraflores, Casal de Barronhos



In Estudos Arqueológicos de Oeiras Volume 6 1996 "A Estação Arqueolóica do Casal dos Barronhos"


CNS: 15506
Tipo: Estação de Ar Livre
Localização Lisboa/Oeiras/Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo
Período: Paleolítico (Inferior e Médio), Calcolítico e Idade do Bronze
Descrição: Estação destruída, representada por materiais líticos e cerâmicos, de superfície, observados antes da construção do Parque de Autocarros da Carris. - Paleolítico inferior e médio; Calcolítico (campaniforme, predominando materiais do Grupo Inciso); Bronze. Prolongamento provável da estação nº 100 (Queijas)
Meio: Terrestre
Acesso: Dificil. Parte inferior de encosta, da margem direita da Ribeira de Algés, entre o Arquiparque e a estação da Carris.
Espólio: Taças carenadas, cerâmicas campaniformes

Bibliografia
- CARDOSO, João Luis Serrão da C. e CARDOSO, Guilherme (1994) - Carta Arqueológica do Concelho de Oeiras. In Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras (Estudos Arqueológicos de Oeiras, 4), p. 126
- CARDOSO, João Luis Serrão da C., MACHADO, A. de e GAIVOTO, C. (1985) - Casal dos Barronhos, Período do Calcolítico. In Informação Arqueológica. Lisboa. 5, p. 86 e 87.





6- Linda-a-Velha

CNS: 11252
Tipo: Vestígios de Superfície
Localização: Lisboa/Oeiras/Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo
Período: Paleolítico inferior (Acheulense médio a superior) e médio; Paleolítico superior (?); pós-Paleolítico; Neolítico ou Calcolítico (machado de pedra polida, sem indicação precisa de proveniência,
Descrição: Zona urbana de Linda-a-Velha; topo de encosta suave da margem esquerda do rio Jamor. Solos do Complexo Basáltico de Lisboa. A estação era constituída por materiais líticos, de superfície. Actualmente encontra-se destruída.
Meio: Terrestre
Espólio: Indústria lítica de pedra lascada, machado de pedra polida.
Depositários: Museu Nacional de Arqueologia

Bibliografia
- CARDOSO, João Luis Serrão da C. e CARDOSO, Guilherme (1994) - Carta Arqueológica do Concelho de Oeiras. In Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras: Câmara Municpal de Oeiras (Estudos Arqueológicos de Oeiras, 4), p. 126.
- CARDOSO, João Luis Serrão da C., ZBYSZEWSKI, Georges e ANDRÉ, M.C. (1993) - O paleolítico no complexo basáltico de Lisboa. In Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras (Estudos Arqueológicos, 3).

7- Outurela I (Encosta Sul de Outurela)




Tipo: Vestígios enterrados
Localização: Bairro social 18 de Maio, - Encosta suave, voltada a nascente, na base da elevação da estação de Linda-a-Velha, a sul da povoação de Outurela e na margem direita da ribeira de Algés. Solos do Complexo Basáltico de Lisboa Lisboa/Oeiras/Carnaxide e Queijas
Período: Idade do Ferro
Descrição: Estação destruída. Restos de estruturas e materiais arqueológicos, troço de estrutura rectilínea constituída por blocos basálticos, materiais de sílex, muito escassos, de superfície
Meio: Terrestre
Espólio: Diverso
Depositários: Câmara Municipal de Oeiras

Bibliografia
- CARDOSO, João, ARRUDA, Ana Margarida, SOUSA, Elisa e REGO, Miguel, Estudos Arqueológicos de Oeiras, Volume 21 de 2014

Outurela I. Vista parcial da área escavada em 1986



8- Outurela II (Alto dos Barronhos) 


Outurela II. Vista do início dos trabalhos em 1985


Tipo: Vestígios enterrados
Localização: Cerca de 100 metros acima de Outurela I (Bairro social 18 de Maio), topo de pequeno cabeço, actualmente ocupado por imóveis de habitação social. Solos do Complexo Basáltico de Lisboa
Período: Paleolítico inferior (Acheulense superior) e médio; Paleolítico superior e pós­ -paleolítico; Ca1colítico (campaniforme, predominando materiais do Grupo Inciso)
Descrição: Estação destruída. fragmentos de superfície, líticos e cerâmicos. Troço de muro rectilíneo, Restos de estruturas e materiais arqueológicos enterrados
Meio: Terrestre
Espólio: Diverso, restos cerâmicos, troço de muro
Depositários: Câmara Municipal de Oeiras

Bibliografia
- CARDOSO, João, ARRUDA, Ana Margarida, SOUSA, Elisa e REGO, Miguel, Estudos Arqueológicos de Oeiras, Volume 21 de 2014









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