Voltei para Algés onde cheguei pelas 8 horas da manhã, colhendo pelo trajecto a notícia de que estava proclamada a República e outras que estava sufocada a Revolta. Quando cheguei às Portas encontrei estas tomadas pelos revolucionários das povoações leste do Concelho de Oeiras, que me convidaram a entrar no posto militar da Guarda Fiscal, (completamente abandonado de força militar) para reconhecimento. Depois dele efectuado entregaram-me a direcção e comando dos revolucionários. E (..) reporto-me por isso às informações dos membros da Junta Revolucionária, que se compunha dos seguintes cidadãos: José Cordeiro Jr., comerciante, António César do Amaral Frazão, empregado da Companhia do Gás, Raul de Figueiredo, guarda livros, Lourenço Correia Gomes, guarda livros, Jaime de Sousa Sabrosa, empregado de escritório e actual secretário de administração do concelho de Oeiras, e João António de Araújo empregado público e professor de ensino livre. (1)
Notas deliciosas elaboradas pelo tenente de infantaria Ferreira Dinis que chefiou as Portas de Algés, uma das entradas na capital no extremo oeste. É pelas suas palavras o relato, que nos chega, da revolução de 1910.
No dia 3 de Outubro à meia noite, “reuniram-se na ponte de Caxias mais de 70 revolucionários dos lugares de Oeiras, Paço de Arcos, Linda-a-Velha, Carnaxide e Algés, aguardando as salvas combinadas como aviso, para então assaltarem a Casa da Correcção, instalada no edifício do extinto Convento da Cartuxa, a fim de se apoderarem de 60 espingardas que estavam entregues àquela instituição.
Dia 5 - Pelas 3 horas da tarde , apresentou-se-me o cidadão José Cordeiro Jr. membro da Comissão Revolucionária, com alvará em que era nomeado administrador do Concelho de Oeiras.
No dia 6 logo de manhã, os postos da guarda requisitavam-me bandeiras Republicanas para serem içadas nos quartéis.
Dia 7 – Logo de manhã pelo referido administrador do concelho, Cordeiro foi pedida força para proceder à detenção do Marquês de Pombal. Nomeei 6 praças acompanhadas da referida Comissão, que procederam à diligência, apresentando-se no posto acompanhado de dois seus filhos, e umas malas a que passei minuciosa revista, nada encontrado digno de nota. Contudo apreendi uns cadernos manuscritos e cartas que juntamente com o Marquês e seus dois filhos mandei apresentar no Quartel General da Divisão.
Dia 8 – Foram restabelecidos os comboios entre Algés e o Cais do Sodré.
Dia 9 – Pelas 12 horas da noite em vista do estado normal da região, entreguei as Portas de Algés ao Sr. Capitão da Guarda Fiscal, Manuel José da Costa e Couto.
Todo este serviço, da máxima responsabilidade e fatigante, foi prestado, com inexcedível valor, dedicação e boa vontade da parte dos habitantes desta região, merecendo especial menção para ser tomada na devida conta pelo Governo Provisório, o administrador do Concelho de Oeiras, José Cordeiro Jr. e a comissão revolucionária”.
(1) Relatórios sobre a Revolução de 5 de Outubro, prefácio e notas introdutórias de Carlos Ferrão, C M Lisboa, 1978,pp 160-171
(2) Legenda foto: Comício Partido Republicano Evolucionista em Algés no Foz Garden, Ilustração portuguesa, 6 de Outubro 1913.
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Retirado de uma Publicação no Blogger "Oeiras com História"
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