A Câmara de Oeiras já investiu cerca de três milhões de euros só em estátuas para o Parque dos Poetas, tendo o escultor Francisco Simões ganho dois ajustes directos que totalizam 66% desse valor.
A preferência do edil Isaltino Morais por Simões é justificada pelo facto de ter sido o escultor, juntamente com o escritor David Mourão-Ferreira, um dos mentores daquele parque verde dedicado à literatura portuguesa.
O último contrato realizado entre a autarquia e Francisco Simões foi um ajuste directo de 850 mil euros, em Setembro do ano passado, para a concepção de 15 estátuas – 14 ninfas e um busto em bronze do poeta Luiz Vaz de Camões – que serão colocadas na extremidade Sul daquele parque temático de Oeiras.
Na proposta de deliberação levada a reunião de Câmara pelo próprio Isaltino Morais, o autarca fez questão de enfatizar a «intrínseca ligação (de Simões) à concretização da ideia do Parque dos Poetas». Este tem sido, aliás, o argumento formal da autarquia para não realizar um concurso público.
Aprovado por unanimidade, este é o segundo ajuste directo realizado a Francisco Simões. O primeiro ocorreu em Setembro de 2001, altura em que o Parque dos Poetas começou a ser construído, e custou cerca de um milhão de euros. Simões foi então incumbido de construir 20 esculturas que ornamentaram a chamada 1.ª fase do Parque.
Na 2.ª fase da obra, adjudicada em 2009 (ano de eleições autárquicas), a Câmara de Oeiras diversificou a lista de criadores, convidando João Cutileiro e António Vidigal, entre outros, a esculpirem estátuas dos poetas portugueses mais conhecidos dos séculos XII a XIX. Os contratos, também precedidos de ajuste directo, totalizaram mais de um milhão de euros.
'Exercício de demagogia'
O desejo da autarquia de ter equipamentos públicos desenhados por escultores prestigiados levou-o igualmente a propor a contratação de Pedro Cabrita Reis para idealizar e construir o monumento que celebra os 250 anos do município. A obra custou cerca de 1,2 milhões de euros e deveria ter sido inaugurada no dia 29 de Setembro de 2011 (quando Isaltino foi preso, levando ao cancelamento da cerimónia).
O SOL questionou a Câmara de Oeiras sobre os ajustes directos realizados a Francisco Simões, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.
Amílcar Campos, vereador do PCP sem pelouro, que votou a favor das deliberações apresentadas por Isaltino Morais, defende a obra da autarquia: «A discussão sobre este ajuste directo, isolado de todo o historial do Parque, é um exercício de demagogia e populismo. Claro que estamos em crise, mas, no momento em que tudo isto foi delineado, o investimento justificava-se».
Campos considera «perfeitamente normal» a última adjudicação realizada a Simões. «É legal e o valor também é ajustado ao conjunto escultórico em causa. Saliento, aliás, que uma obra de arte não se adquire por concurso público», sublinha Campos. «Por outro lado, haja ou não qualquer intenção de favorecimento (que eu desconheço), é importante sublinhar que o mestre Francisco Simões é um dos mentores do Parque dos Poetas».
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