domingo, 8 de abril de 2012

A Reabilitação urbana da Praça de Algés

REABILITAÇÃO URBANA DA PRAÇA D. MANUEL I EM ALGÉS






2.300 veículos poderão vir a estacionar numa das mais interessantes "entradas" de Lisboa, associando-se essa utilidade pública a uma nova e agradável configuração urbana e arquitectónica. Vai ser assim na Praça D.Manuel I, mais conhecida por Praça de Algés, que reencontrará a dignificação do nome do "Venturoso" rei. Em conjunto com a área comercial de Algés e a área cultural dos Jerónimos, serão três identidades urbanas de futuro inter-relacionadas. Aconteceu no Terreiro do Paço, aconteceu no Martim Moniz e acontecerá na Praça D.Manuel I, em Pedrouços, porque as "cidades fazem-se com decisões positivamente comprometidas", e de planeamento constante. A situação de "entrada" na cidade de Lisboa, a localização do importante e nevrálgico interface de transportes públicos, onde se cruzam autocarros e eléctricos da Carris, carreiras sub-urbanas, e linha de comboio, que provocam grande afluência de pes- soas, potencia o desenvolvimento de estruturas de apoio, de estacionamento, comércio e serviços, que resolverão o problema da reabilitação urbanística, associando-se a Câmara Municipal à Empresa Municipal de Estacionamentos de Lisboa (EMEL), para esse efeito.




O limite do Concelho de Lisboa - na zona de Algés/Pedrouços - passa sensívelmente pelo diâmetro aproximado da Praça D. Manuel I, a qual apresenta problemas urbanos resultantes exactamente do facto de ser "fronteira" entre os dois concelhos, de Lisboa e de Oeiras, acrescida a situação de aí se vir a implantar, num futuro que esperamos próximo, o importante "nó de ligação" à Circular Regional Interna de Lisboa (CRIL). A implantação deste nó de ligação poderá constituir um elemento de grande impacto físico, que agrave a imagem e a vivência do local, se não se tiver em consideração a integração harmoniosa no conjunto do futuro espaço público.

A "fronteira" foi assim, "construindo" uma Praça dividida em duas áreas de composição: do lado de Oeiras, encontramos um espaço exterior público mais ou menos tratado e animado, mas isolado do contexto; do lado de Lisboa o cenário da herança dos quarteirões incompletos,que têm frente para a Rua Damião de Góis, mostrando as traseiras de edifícios de habitação; os terrenos vagos de geometria imperceptível deram lugar a espaços de estacionamento de superfície, que naturalmente não conformam o espaço arquitectónico. A importante Avenida Vasco da Gama, que aí desemboca, sendo um elemento urbano hierarquicamente superior, carece de "marcação" urbanística, que só o reordenamento da praça lhe poderá vir a conferir.




Em Oeiras "entra-se", de Lisboa "sai-se"; a vice-versa vai acontecer em breve. A base do programa de intervenção é a construção de silos de estacionamento dissuasores da entrada de veículos na cidade. Estas construções, pela sua arquitectura, constituirão por um lado o remate dos quarteirões, e por outro revelar-se-ão como elementos significantes, quer pela sua função específica, quer como conformadores do espaço urbano, com uma linguagem arquitectónica contemporânea. A sua construção, é compatível com a implantação do nó da CRIL, e cumpre o programa determinado pelo Departamento de Tráfego da Câmara Municipal.

Mas a operação, integra também espaços destinados a comércio e serviços. Estas três actividades associadas - estacionamento, comércio e serviços - são complementares, sendo cada uma delas valorizadora das outras duas, e as três em conjunto valorizadoras de todo o espaço envolvente. Integrados na composição dos espaços comerciais, ficarão os comerciantes instalados actualmente na Praça de Espanha, de acordo com o programa fornecido pelos competen- tes serviços camarários; considerou-se uma galeria de comércio ao nível térreo, com lojas autónomas em liga- ção directa com a rua, intenção que pode potenciar a requalificação daquele tipo de comércio. A proximidade aos grandes fluxos de potenciais clientes, e a anexação a futuros grandes espaços de estacionamento, são factores positivos a favor desta intenção. Considerou-se ainda a possibilidade de ocupação do terreno marginal da Avenida da Índia, com uma estação de serviço ou com um edifício de serviços. O espaço de estacionamento, para além da sua participação no "triângulo" anterior, é um parque dissuasor; com tarifas diárias de baixo valor, deverá constituir alternativa atractiva para quem se desloque em viatura particular para Lisboa. Todos os edifícios se implantarão em terreno municipal disponível, e o sucesso da sua construção alicerça-se no movimento diário de pessoas que utilizam todo o interface de transportes, acrescido pela acessibilidade melhorada pela CRIL e pela facilidade de estacionamento que os próprios silos proporcionarão.

Duas plantas em subsolo, com a área de 19000m2 e a capacidade para 1500 automóveis, e quatro pisos em altura com capacidade para mais 800, substituirão os escassos 554 lugares actuais, ao ar livre, contados no Concelho de Lisboa.
Uma ponte pedonal sobre a Avenida Vasco da Gama ligará as duas estruturas edificadas.

A operação considera a edificação das "Novas Portas de Lisboa em Algés", em ligação directa com o espaço de estacionamento subterrâneo, edifício ponte de fruição comercial, que estabelecerá a desejada ligação da cidade com a zona ribeirinha.
No centro da Praça D. Manuel I é implantado um edifício de apoio ao interface de transportes, onde se faz a ligação directa de peões aos pisos de estacionamento em cave.



Faz-se o aproveitamento das coberturas dos silos-auto como miradouros sobre todo o espaço da Praça e sobre o Rio. A tomada de vistas privilegiada é rentabilizada pela implantação de três unidades de restauração de qualidade elevada. Apesar da circulação estar garantida a todos os pontos da cobertura, cada restaurante tem um espaço de extensão de esplanada frente à respectiva galeria envidraçada, virada a Sul, à Praça e ao Rio.

O "desassossego" do desenho da praça existente, originou uma geo metria coerente e simples, necessária às caracteristicas dos edifícios que se revelarão sobretudo pela sua essencia formal e funcional. Serão os primeiros edifícios com estas caracteristicas a ser construidos em Lisboa.
A composição dos alçados, e o tratamento das superfícies, evidenciam - enquanto ícone de entrada na Cidade de Lisboa - o desenho da bandeira, símbolo da cidade capital.



* Arquitecto, co-autor do projecto com Pedro Serra Vaz

Retirado de Boletim Lisboa Urbanismo - Ano 1999

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