sábado, 13 de outubro de 2012

As Cheias de Novembro de 1967 em Algés



Menino em zona de inundação perto de Lisboa 1967.
Life Photo Archive


Na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, Em pouco mais de 12 horas Algés e a região de Lisboa em geral eram atingidas por fortes chuvas, que viriam a originar uma das maiores calamidades que se abateram sobre estas áreas. A subida das águas foi de tal maneira forte e rápida, perante a praia-mar, que ribeiras e esgotos ficaram sem qualquer capacidade para as escoar. Casas, pontes e pessoas foram arrastados à passagem daquela onda destruidora. Os dados oficiais apontaram para 250 vítimas mortais. Todavia, o balanço final terá ascendido a mais de 700 mortos e ficou bem vivo na memória das populações fustigadas. de 1967.

moradores salvam pertences após inundação. Lisboa, Portugal, Novembro 1967

Life Photo Archive


 427 mortos indicava o Diário de Notícias a 29 de Novembro de 1967, pouco antes do governo ter imposto a cessação da contagem pública. Algumas zonas de Lisboa, Algés, Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Alenquer foram transformadas em autênticos cemitérios de lama. Num ambiente de comoção geral, promoveram-se peditórios, espectáculos e subscrições visando recolher fundos de apoio aos sinistrados. A «campanha de solidariedade» contou com a participação de centenas de estudantes, muitos deles oriundos de estruturas católicas

Consequências das cheias na Pontinha (www.jf-pontinha.pt)

Na imprensa, as notícias concentravam-se no júbilo perante a demonstrada «cadeia de solidariedade humana (…) sem distinção de classes», que havia significado a «vitória do homem, que a natureza tinha esmagado», como acentua o Diário da Manhã. Numa leitura distinta, o Solidariedade Estudantil apresentava estatísticas baseadas em dados do Serviço Meteorológico Nacional, mostrando que o máximo de pluviosidade havia ocorrido no Estoril, apesar das mortes terem acontecido nos bairros pobres dos  arredores de Lisboa (entre eles Algés) e nas zonas pobres do Ribatejo. Também o Comércio do Funchal chamava abertamente a atenção para as causas sociais que haviam estado na base da catástrofe: «nós não diríamos: foram as cheias, foi a chuva. Talvez seja mais justo afirmar: foi a miséria, miséria que a nossa sociedade não neutralizou, quem provocou a maioria das mortes. Até na morte é triste ser-se miserável. Sobretudo quando se morre por o ser»




Como é evidente e escrevemos anteriormente, Algés sofreu directamente o impacto deste cataclismo, e a baixa de Algés foi devastada por uma torrente de lamas, detritos e agua, tendo-se registado diversas mortes na Freguesia (na altura Freguesia de Carnaxide).
 O envio das avassaladoras fotografias da Baixa de Algés que abaixo partilha mos pelo nosso leitor o sr António Santa-Bárbara  sobre estas cheias nos finais do ano de 1967, fez-nos integra-las num artigo mais vasto sobre este assunto, elas merecem bem este artigo assim como a acontecimento que foi de muito relevo na localidade.

Junto à Ria de Algés


Junto à Praça Touros de Algés


Perto do Mercado de Algés



11 comentários:

  1. snr rui teodosio desculpe mas eu sou o miudo que esta na segunda foto de cima para baixo e gostaria muito de saber se havia a possibilidade de que me a envia se aqui deixo o meu contacto :nadinemanu27@gmail.com um muito obrigado e ate a vossa resposta

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  2. Assisti a essas inundações ainda criança. Ao rever as fotos da tragédia, parece que foi ontem !..

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  3. Eu e minha família fomos vítimas destas cheias. Vivíamos na Vila Matias em Algés.

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  4. eu estava ai com 9 anos e lembro-me bem ...morava no Alto Duque Estrada da circunvalacao em frente ha taberna do Sr Bento ao pe do chafariz foi horrivel

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  5. Boa noite, eu fui uma das pessoas que viveu no terreno esses acontecimentos. Sai por uma janela com a minha mãe perdemos todos os haveres e dias depois familiares mais velhos não aguentaram as perdas.
    Não há ano nenhum que esta data me passe despercebida, vivia na quinta junto ao rio na senhora da rocha, logo a seguir existe o aqueduto que separa o estádio nacional.
    Com os d destroços ficou trancado com as casas e árvores que vieram desde Odivelas formando uma barragem, a água chegou até à A5. Fomos socorridos por um casal que passava na altura que levou no carro sete crianças, uma das quais acabou por falecer, estivemos com o carro submerso ?
    Foi um pavor , com sete anos , estas memorias não se apagam

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    1. Boa noite, Maria Antunes. Queria pedir-lhe que contasse a sua historias das cheias para ser gravada para um projecto da Bibliotheca de Alges sobre historias de vida.

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  6. Eu vivi este drama pois morava na Rua Elias Garcia, nº15, em Algés.
    Tenho várias fotos que tirei nessa altura em Algés.

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  7. Eu tinha oito anos,vivia na Rua Dr. Manuel de Arriaga n.49, eram cerca das 23h comecámos a ouvir gritos na rua. Chovia torrencialmente a minha mãe disse para eu ir à janela ver o que havia na rua, quando abri a janela,vi a água na rua já com mais de meio metro, ouvia-se um barulho medonho vindo das traseiras dos prédios da calçada do rio, quando olhámos vimos um repuxo altíssimo de uma largura medonha,o coletor tinha rebentado, os carros iam pela estrada a baixo, recolhemos em casa a nossa vizinha que morava na cave e os membros do circo que estavam em frente de nossa casa, no terreno onde mais tarde foi construída a garagem dos bombeiros voluntários de Algés.O meu irmão na altura com com 18 foi à cave da vizinha buscar o dinheiro e os documentos dela, a água subia pelos ralos e sanitas, de repente rebentaram os muros das traseiras e a cave encheu até ao tecto. O meu irmão conseguiu sair e tivemos de star uma corda da nossa porta de ferro à árvore para ele não ser arrastado.No dia seguinte tínhamos lama por todo o lado, ainda hoje guardo a memória do cheiro daquele dia

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  8. Eu vivi em frente a esquadra da policia que ficava dentro do mercado de alges lembro muito bem desse dia o meu pai trabalhava no talho no mercado as arcas aonde se guardava os porcos e as vacas que era nas caves dos talhos ficaram cheio de agua e lama.

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  9. Bom dia eu lembro muito bem eu morava em frente a esquadra da policia que ficava dentro do mercado de alges o meu pai trabalhava no talho no mercado os frigoríficos que ficavam na cave dos talhos ficaram cheios de agua e lama as carnes ficaram todas estragadas

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  10. Também eu vivi este drama. A Rua Latino Coelho depressa se tornou num mar de lama, de dor e de destruição.
    Ainda hoje a chuva me amedronta. Visualizo frequentemente vário cenários desses dias.
    Perder tudo e ficar sem nada foi horrível!

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