domingo, 25 de março de 2012

A familia Anjos e o veraneio em Algés

A pedido de vários leitores aqui publicamos hoje alguns dados sobre a historia da família "Anjos" antiga proprietária do Palácio com o mesmo nome em Algés, depois de uma rápida pesquisa deparei me com um artigo que sem tirar nem por relata muito bem o passado desta familia, assim aqui transcrevo o excelente artigo do blog "Bic Laranja" sobre este assunto


Palacete Anjos (Direcção de Serviços de Exploração dos Correios), Restauradores, [post 1939].
Francisco dos Santos Cordeiro, in Fundação Portuguesa das Comunicações.




Norberto Araújo, no livro XIV das Peregrinações em Lisboa (2ª ed. Vega, 1993), faz menção à família Anjos como «industriais e comerciantes de bom nome» que construiram no séc. XIX, sobre chão que fora dos condes de Castelo Melhor, o palacete Anjos e nele habitaram. Edifício de dois andares e águas furtadas dava frente para o Passeio Público e para a Travessa de Santo Antão. Tinha nove janelas na fachada que dá hoje para os Restauradores, três de sacada no andar nobre e no superior. Foi adquirido em 1938 pelo Estado e em 10 de Junho de 1939 entraram a funcionar nele um posto e outros serviços dos Correios. «Tôda a decoração do pavimento baixo é de Almada Negreiros; merece citação especial o quadro, à esquerda do átrio, que representa a "Mala Posta", delicada composição de tintas brandas» (Norberto Araújo, op. cit., p. 24). – Não sei se ainda se lá acha alguma coisa disto...


O edifício foi alteado de um piso nos anos 40 e ficou despojado dos ornamentos mais notáveis da fachada: as esculturas que sobrepujavam as sacadas do andar nobre e os florões no cunhal; os pináculos originais ao gosto romântico que coroavam os cunhais foram substituídos por uns em pirâmide, em gosto Português Suave, imitando, ao que julgo, o estilo D. João V.


Não sei se foi Policarpo Pecquet Ferreira dos Anjos (1845-1905) que mandou fazer o palacete ou se o herdou. Conselheiro, par do reino, industrial ligado à importação e exportação de têxteis, accionista do Banco Lisboa & Açores e da Companhia Geral do Crédito Predial, dirigente da Associação Comercial de Lisboa, filantropo da Real Irmandade de N. Senhora da Conceição da Rocha, casou em 31 de Agosto de 1871 com Alice Joyce Munró(1850‑1934), de ascendência escocesa e irlandesa. A família Anjos tinha meios e proeminência social. Uma das filhas, Matilde, veio a casar com o conde de Arnoso depois de ele enviuvar; outra, Berta, com o 12º conde de S. Lourenço. Algures na descendência desta família entroncam os Empis, mas deixai a via genealógica que é um novelo denso...


Policarpo dos Anjos adquiriu por 1870 outro Palacete Anjos ao Príncipe Real, nºs 21-23, hoje dependência do Banco de Portugal (v. Agostinho da Paiva Sobreira, «Praça de Príncipe Real VI», in Ruas de Lisboa com Alguma História). Mandou, além destas casas, fazer ainda o célebre chalet de Miramar, em Algés, onde a família passava temporadas de veraneio; o chalet (também dito Palácio Anjos) foi edificado em data incerta entre 1880-86 (Maria del Sol Adragão, Centro de Arte Colecção Manuel de Brito, &c., dissert. de mestrado em Museologia, U.N.L., 2010, p. 41), mas já estaria posto a uso em 1885, conforme se tira da data do diário de Maria Leonor, a filha mais velha do conselheiro Policarpo e de Alice Munró dos Anjos. Se bem me lembro a Vila de Miramar em Algés foi biblioteca municipal; actualmente é o Centro de Arte Manuel de Brito. Mencionou-me a prezada leitora Maria quando me deu omote para estas nótulas, uma casa da família em Loures; não achei dela agora notícia. Ou não a soube eu procurar.





Família Anjos na sua casa de veraneio, o Chalet Miramar, Algés, [s.d.].Alexandra Carvalho Antunes, O Veraneio da Família Anjos; Diário de Maria Leonor Anjos (1885-87), Oeiras, C.M.O., 2007,apud pH Neutro.




No palacete Anjos moraram com a família duas irmãs solteiras de D. Alice Munró, Cristina e Francisca (Fanny). O palacete Anjos nos Restauradores tinha capela, teatro e o atelier de Fanny Munró, artista pintora discípula de Silva Porto. Fialho de Almeida refere-se-lhe a propósito da 1ª Exposição do Grémio Artístico em 1891: «A sr.ª D. Fanny Munró tem tres quadrosinhos, com seguras qualidades de factura e colorido. Sente-se a estudiosa que procura, ajudada d'um mestre que não costuma lisongear precocidades problemáticas, e por isso mesmo avançando com segurança mas sem pressa.» (Vida Ironica; Jornal d'um Vagabundo, 2ª ed., A. M. Teixeira, Lisboa, 1914, p. 290).


Tinha-se Fanny Munró por excêntrica por acompanhar com amigos de condição social diferente. Enamorou-se dum moço Filipe de Andrade que não era da alta sociedade; correspondia-se muito com ele até que dum dia para o outro as suas cartas deixaram de ter resposta. Soube-se depois pelos jornais que Filipe de Andrade fora achado sem porquê afogado no Tejo. O mar que Fanny representava nas suas telas levara-lhe o amor. Foi um grande desgosto (v.Sandra Leandro, «Patrimónios pouco visíveis; pintoras Josefa Greno (1850-1902) e Fanny Munró (1846-1926)», in Boletim da A.P.H.A., nº 4, Dez. 2006).


Acha-se dispersa e em parte talvez incerta a obra da artista Fanny Munró. Na rede da Internete apenas achei esta tela numa leiloeira; não dão o título e pergunto-me se não será o Saveiro, que apresentou à exposição do Grémio, em 1892...









MUNRÓ (FANNY), Saveiro (?), 189...


Óleo sobre tela, assinado. 48 x 63 cm, in São Domingos.




Centro de Arte Manuel de Brito - Palácio dos Anjos

Livro de Alexandra Carvalho Antunes sobre a familia Anjos


Maria Leonor Anjos (1872-1940) pertencia a uma família ligada ao comércio e ao têxtil, vivendo em Lisboa mas tendo casa de veraneio em Algés, numa época em que aquela zona era um local aprazível de praias. .

Esta obra resulta da cedência de um documento privado da família Anjos – um diário - à investigadora Alexandra Carvalho Antunes, que o traduziu e contextualizou histórica e culturalmente.


O diário foi escrito por Maria Leonor Anjos entre 1885 e 1887 (dos 13 aos 15 anos de idade). Nele estão descritas em pormenor as suas memórias, relatando como se passava o veraneio naquela época. A menina descreve grandes viagens que a família fazia pela Europa na Primavera e os verões em Algés. Ela descreve os passeios até aos Jerónimos, faz descrições das festas com os amigos, entre os quais se destaca Eça de Queiroz.


Esta obra é ilustrada por 83 fotos e mapas de Lisboa e da Europa (para localizar as viagens relatadas).


Refira-se que a escolha do Palácio Anjos para lançamento do livro assumiu um significado muito particular para a família Anjos. A propriedade desta família tinha uma capela que foi erigida para assinalar as bodas de prata do casal. Mais tarde, foi doada ao Patriarcado de Lisboa. A capela foi destruída há vários anos e em 2005 o bisneto, Duarte Seabra Diniz, colocou uma placa identificativa no local onde estava situada a capela. Todos os anos é realizada uma missa, em 25 de Novembro, para assinalar e manter viva a memória dos primeiros proprietários. Eis a razão da eleição desta data para o lançamento do livro.

O livro publicado em 2007 encontra-se disponivel na biblioteca de Algés 


O livro de Alexandra Carvalho Antunes, O veraneio da família Anjos. Diário de Maria Leonor Anjos (1885-1887), uma edição da Câmara Municipal de Oeiras 

aqui fica a titulo de amostra o relato de dia 24 de Agosto de 1886:



[...] Dois ou três dias à tarde fomos passear de barco até à Cruz Quebrada [a partir de Algés].
No dia onze houve uma distribuição de prémios no Convento do Bom Sucesso [em Belém], à qual fomos assistir. Estava muita gente mas não tanto como de costume.
O arcebispo de Mitilene distribuiu os prémios que consistiam em livros. Os alunos, que eram cerca de cinquenta, tocaram piano e harpa e recitaram poesias em inglês, em italiano, em alemão e em francês.
Ontem foi domingo, fomos à missa das onze e meia.



no vídeo, uma parcela da intervenção da autora

1 comentário:

  1. Tema interessante - hoje (19 de Agosto de 2013) espero estar presente na conferência da Alexandra em Oeiras na Associação a que pertenço, "Espaço & Memória" - Carlos peres feio -

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